“Só tem direitos humanos pra bandido.” Isso é fala conclusiva, senso comum da pior espécie. Encerra a conversa que sequer começou. Morta, ela deixa espaço para exaltar o silêncio acomodado. Algo equivalente ao taxativo “Roma locuta, causa finita” – o caso está encerrado, não cabe réplica. Era desse espírito que se servia a Santa Madre Igreja quando impunha o “silêncio obsequioso”, eufemismo que suaviza o “cala a boca!” a teólogos, cujas teorias incomodavam.
Outra abordagem possível, para não repetir essas atitudes ditatoriais, e que anula radicalmente a primeira, ficaria assim: “O que são os direitos humanos? O que é a Declaração Universal dos Direitos Humanos? Qual o seu propósito e como esses preceitos são aplicados em nossa realidade? O que ainda não funciona adequadamente e o que pode ser feito para avançarmos? Como eu posso contribuir, e o que ainda não fiz a respeito?” Isso é fala que convida e permite a reflexão, sem medo de ouvir. Senso crítico da melhor espécie, inteligente. Estimula a conversa, induz à pesquisa, abre novos e novos horizontes. Enriquece.
Na reunião, quando o líder facilita a problematização e, mais ainda, interessa-se por respostas inesperadas, as contribuições não param de chegar. E então, ele passa a coordenar ideias, não silêncios resignados. Paradigmas viram fumaça e decisões coletivas são abraçadas. Resultados aparecem, porque a causa particular se torna projeto de todos.
Mas bom senso é uma questão de preferência e de bom gosto. Trata-se de algo que, no entanto, exige uma familiaridade com a ideia de refinamento em todas as suas dimensões. O que bate de frente com a atitude de pobreza intelectual defendida como algo sagrado, cláusula pétrea, por tanta gente de bem. ₪
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