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Foto do escritorRubens Marchioni

■ Um jovem com medo de atravessar a ponte

Mauricy já estava no começo da ponte sobre um rio, dono de um espaço aproximado de quarenta metros de largura.


Do outro lado, um homem que lhe entregaria algo decisivo o esperava. Tudo de que o jovem precisava para um futuro profissional que valesse a pena bem poderia estar lá dentro. O momento era decisivo.


Com olhos enormes sob os cabelos castanhos desalinhados, Mauricy olhou para a água e viu crescer a ansiedade que o acompanhava. A experiência era desejada tanto quanto uma dor de dente.


Naquela tarde fria de inverno e vento forte, Mauricy precisava tomar uma decisão: continuar disponível para os efeitos do Medo de atravessar pontes ou colocar as mãos no que representava a solução de um problema que pedia resposta imediata: entrar e financiar o curso de Medicina numa escola de primeira linha ou conviver com emoções e lembranças duras demais para serem carregadas pelo resto da vida.


Novamente repetiu o gesto corriqueiro: ajeitou os óculos com a ponta dos dedos feitos de unhas sujas. Com esforço, fez um movimento com passos indecisos para iniciar a travessia. Por alguns instantes olhou para o final da ponte e ele lhe pareceu muito distante. Era preciso caminhar. Mais do que isso, era preciso se vencer.


Mauricy parou. O desafio ganhava dimensões assustadoras. No entanto, o estudante não aceitou a ideia de desistir. Sua determinação enfraquecida devia ser trazida de volta à cena. Só restava saber como.

Por um momento pensou ter descoberto. Tentou de novo. Dessa vez dobrou a dose de esforço e caminhou por alguns metros sobre o que lhe parecia o maior perigo já enfrentado. Mas a outra margem ainda estava distante.


Não havia onde se apoiar, nenhum corrimão. Mauricy sentiu vertigem e caiu. Na queda, uma lente dos óculos se quebrou. Sua mente pedia uma trégua. A distância não poderia separá-lo do lugar onde estaria o começo de uma vitória.


Levantou-se. Avançou de novo. Agora a outra margem se tornou uma possibilidade. Respirou fundo. Cauteloso, novamente repetiu o gesto de ajeitar os óculos com a ponta dos dedos. Reposicionando os ombros largos, conversou com o Medo, seu antagonista naquela jornada.

- Desista, cara, porque eu não vou desistir – disse.

- Você é que pensa, meu rapaz. Eu sei do espaço que ocupo aí dentro, lembra? – respondeu.

- Isso é o que vamos ver – disse Mauricy. – Você está liquidado, Medo – concluiu.


Esforçando-se para acreditar, disse a si mesmo que a ponte era apenas um pedaço de rua de concreto sobre a água. Sem mistérios, portanto. Não havia por que temer. A razão insistiu, apesar de a emoção lembrar que nada daquilo era consistente.


Sabendo que, àquela distância da terra firme, não era prudente olhar para nenhum ponto além daquele em que estavam seus pés, adotou uma estratégia inventada ali mesmo: primeiro ajoelhou-se e não se permitiu olhar para nada além do exato ponto onde estavam seus joelhos.


Então, com os olhos presos, começou a se movimentar para frente até alcançar a outra margem, enquanto enganava seu habitante, o Medo. Distraído e confiando na sua força, o Medo não se deu conta de que o rapaz ganhava tempo e, principalmente, espaço.


Do outro lado, já cansado de esperar e ensaiando ir embora, estava um homem, visto apenas de costas. Mauricy correu e ainda conseguiu abordá-lo antes que se distanciasse. Não havia tempo, e por pouco ele não colocou tudo a perder devido ao impulso desnecessário de repetir algumas coisas várias vezes até estar certo de que tudo foi dito como deve.


Objetivo e falando apenas o indispensável, o homem lhe entregou um envelope. Dentro dele havia um documento onde se lia o passo a passo para manter-se na mais importante universidade, ao menos no aspecto financeiro.


O estudante sentou ali mesmo, enquanto o homem de poucas palavras se distanciava na estrada inédita para ele. Agora Mauricy precisava anunciar a sua vitória. Mas antes era preciso vencer novamente o Medo e fazer o caminho de volta. Além de tomar providências práticas para ser aprovado no vestibular cheio de pressa. Uma nova ponte esperava por ele.

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