■ Sexo com palavras
- Rubens Marchioni
- 19 de mai. de 2013
- 2 min de leitura
PALAVRA DE ESCRITOR. Uma grande amiga desse país chamado Facebook me fez uma pergunta, que respondo com alegria: “Preciso fazer uma pergunta. Por que algumas vezes o texto está pronto na cabeça, e parece difícil transcrevê-lo no papel? A impressão que se tem é de que não há fidelidade!!!!!”
Talvez isso se deva ao fato de que em geral não nos sentimos confortáveis ao ver no papel o que está na cabeça, exatamente como está na cabeça. Parece que não escrever a versão final, pronta, logo de cara, significa um fracasso. Ora, escritores são escritores porque antes de tudo são reescritores. O primeiro passo para nunca escrever nada é esse. Uma pena, porque até mesmo Hemingway, Prêmio Nobel de Literatura, reescreveu o último capítulo de um dos seus livros mais importantes quase vinte vezes. Está provado: escrever é REESCREVER.
Outro motivo: é comum aquilo que temos na cabeça pedir silenciosamente outra versão, ainda melhor, mas não revelada, cujo encontro precisamos deixar acontecer – para isso somos escritores. É comum a gente ter uma ideia na cabeça e ela ficar bem melhor no papel, depois de pronta. Mas é preciso primeiro deixar que ela vá para o papel. Um bebê só se torna um homem feito se antes puder deixar a barriga da mãe. [Bebê preso no ventre materno morre e pode matar quem o gerou]. Depois disso, aceitar o delicioso jogo de trabalhar essa ideia, pinçando palavras, como um artesão, até que ela revele a forma que desejava ter desde sempre e nos encante – “Ah! então era isso? Que lindo!”
Esse trabalho é tão prazeroso quanto um orgasmo que, no entanto, não acontece do nada e fica ainda melhor quando o dividimos com a pessoa amada. Desse ponto de vista, é com as palavras que nesse momento fazemos sexo. Isso explica um pouco? Seja como for, disponha sempre. ₪
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