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Foto do escritorRubens Marchioni

■ Quase humano

Comecei a me perguntar sobre os limites do uso do celular, colocado entre as pessoas, naquele restaurante. As duas garotas engoliam batata frita, sem critério, enquanto seus dedos mastigavam palavras e imagens soltas e sem nexo, em adoração frenética.

A impressão que tive da cena já corriqueira, não foi das melhores. Ela não me dava um bom depoimento sobre as possibilidades do desenvolvimento humano. Bertolt Brecht me fez ouvir a sua voz: “Há momentos em que se tem de escolher entre ser humano e ter bom gosto.” Aquelas criaturas eram quase nada disso. E aí não se notava qualquer empenho em escolher. Apenas se jogavam nos braços do instinto quase animal.

Não gosto do papel de condenar. Apenas me vejo com o necessário e coerente sentimento de indignação, aceito pelo cristianismo, quando não se defende interesses egoístas.

Minha condição humana prevalece. Como ignorar tamanha submissão a uma conquista feita a serviço do homem? Meio kennedyano, também senti que “Perdoar, sim; esquecer, nunca.”

Não vou me associar ao Estado Islâmico por causa disso, que não sou do ramo. Navego nas ondas da paz, que me levam mais longe. Mas não prometo me acostumar, com facilidade, à prática dessa forma sofisticada de idolatria, ainda que o deus cultuado seja um nobre aparelho de celular. A gente ainda tem muito que ouvir. ₪

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