■ Propaganda: aprecie com moderação
- Rubens Marchioni
- 12 de jun. de 2019
- 6 min de leitura
O CONSUMO EXCESSIVO da propaganda pode desvirtuar a capacidade de discernimento. E isso tende a levar ao descontrole quanto aos critérios de decisão na hora da compra, incorrendo, consequentemente, em consumismo. Péssimo.
Os efeitos se manifestam nas dificuldades de administrar as economias pessoal e doméstica. O problema, nesse caso, está na desordem generalizada que se instala na vida da pessoa afetada. É preciso encontrar uma solução.
Um caminho viável? A busca por um tratamento da síndrome do consumo, além da imersão num projeto de educação financeira. Urgente.
Uma vez mantido esse controle contra as investidas da propaganda, no seu desejo de informar, persuadir e vender mais, é possível dizer que o resultado obtido foi positivo, atendeu às expectativas.
O que se percebe, num primeiro momento, é a validade de buscar um ponto de equilíbrio para o relacionamento com a propaganda.
Como disse, quando bem equilibrada, essa prática pode ser benéfica, uma vez que ela orienta as soluções oferecidas.
Isso, naturalmente, favorece a criação de um mercado mais consciente, consumindo aquilo de que realmente precisa e evitando a superprodução de bens, que provoca a saturação de matéria prima devido à exploração desmedida dos recursos naturais.
Nesse cenário, as pessoas viverão mais felizes, e o planeta finalmente encontrará a oportunidade de que precisa para sobreviver. O problema evitado poupará a geração atual e as que virão. Elas vão encontrar um planeta ainda em condições de abrigar a todos de maneira confortável. Nesse sentido, convém lembrar de que dispomos de apenas um planeta Terra, e evitar sua depredação é pra lá de recomendável.
A solução, como se pode perceber, está no uso do bom senso quando o assunto é a relação com a propaganda e os efeitos que ela pode produzir se consumida sem critérios. O propósito a ser alimentado é de uma convivência saudável e equilibrada com a comunicação mercadológica. Esse é caminho certo para a conquista.
Isso deixa claro que não há por que fugir da propaganda, mas criar com ela um relacionamento que inclua também a razão, a fim de que os limites fiquem devidamente estabelecidos.
Desde que se tenha equilíbrio, consumir propaganda é uma prática saudável como forma de definir com mais clareza o que deve ser comprado ou não. Nesse caso, penso que estamos nos entendendo – você estabelece uma relação com a propaganda e ela acrescenta, porque informa sem dominar. É você no comando.
Com isso, você se sente melhor. A sociedade não fica saturada. A natureza não sofre violências evitáveis. E os sinais não poderiam ser melhores. Tudo serve como termômetro de que a sua relação é positiva e está longe de causar qualquer dano à sua vida ou à sociedade. Contar com a ajuda desse recurso pode ser uma questão de facilitar as coisas para a vida social.
Tudo isso nos leva a perceber o quão importante é estar conectado com a propaganda. Sem ela, não seríamos informados a respeito de soluções mercadológicas valiosas. Além do que, os veículos de comunicação não teriam faturamento suficiente para continuar cumprindo o seu papel de informar, discutir, formar, exigir etc.
Assim, ampliamos as possibilidades de conquistar uma vida mais confortável, o que nos favorece, enquanto contribuímos para manter funcionando toda a cadeia de comunicação social existente.
A sociedade como um todo se beneficia com isso. E esse quadro, por si só, justifica a valorização da propaganda, naquilo que ela tem de melhor, e desde que se mantenham os devidos filtros para fugir de excessos. Usada em boa medida, portanto, ela representa soluções que não podem ser descartadas.
Do que é feita a propaganda? De mensagens que levantam as demandas de um público, oferecendo a resposta considerada adequada para resolvê-las, convidando-o a agir, isto é, comprar. Para isso, ela se serve de diferentes mídias, de acordo com o target desejado e o conteúdo a ser veiculado.
Uma vez tendo chegado à mente do consumidor, ele acorda necessidades já existentes e oferece soluções para cada demanda não atendida. Isso se manifesta no comportamento da pessoa que, diante de uma mensagem persuasiva, dá sinais evidentes de que compraria aquele item, ainda que isso implicasse em fazer pequenas dívidas.
Mas é aí que mora o perigo: nem sempre esse consumidor dispõe de recursos financeiros para bancar o que deseja adquirir. E o risco de comprometer mais do que seria razoável começa bater à porta, às vezes chegando ao arrombamento.
Agir de maneira racional e equilibrada a esse impulso é o melhor que se pode fazer para não ficar à sua disposição. Não se tornar presa fácil da mensagem publicitária: eis a meta a ser atingida, quando o assunto é relacionamento com a comunicação mercadológica.
O anunciante, a agência de comunicação, a mídia, todos esperam por você, como veremos. O que vai dizer a cada um deles?
Se essa é a sua matéria prima principal, por um lado contamos com as agências de propaganda que, de acordo com informações fornecidas pelo anunciante, produzem as peças que serão veiculadas. Isso, além das mídias, distribuidores – jornais, revistas, sites, por exemplo – compondo essa cadeia para que a informação chegue ao último elo da corrente, o consumidor.
Ou seja, o mercado é composto por uma rede de empresas que, atuando em conjunto, estão no encalço do consumidor, e isso pode significar um risco para ele.
Quando menos se espera, alguém pode ser envolvido por um conjunto de forças e se tornar vítima da falta do autocontrole necessário para reagir e estabelecer os parâmetros. Se isso acontecer, já não dispomos de um consumidor, mas de alguém que, por ser dominado, deixou de ser dono das próprias decisões, o que é péssimo para si mesmo e para os outros à sua volta.
Assim, conhecer essa rede, composta por anunciante, agência, mídia etc., para saber exatamente a maneira mais sensata de lidar com tudo isso, é a melhor resposta. A convivência com todas essas forças sinaliza para o sucesso na maneira como o consumidor se relaciona com a propaganda, a fim de que eventuais danos sejam evitados.
Não, não precisamos ser vítimas silenciosas da sua força. É possível traçar metas para obter um bom relacionamento, de tal maneira que todos saiam ganhando com isso. A propaganda, em si, não é um mal; seu uso inadequado, isto sim, é perigoso e precisa ser combatido.
Quando o público se sentir devidamente informado, sem manipulação e com uma perspectiva de serviço, o anunciante visualizar as suas vendas crescerem, as mídias atingirem maior faturamento e toda a roda da Economia começar a girar, isso significará que a propaganda cumpriu o seu papel.
Ora, esse resultado, positivo, não acontece por acaso, ele é fruto de uma tomada de consciência quanto aos limites da comunicação mercadológica – o que deve fazer, que reações buscar, como ser recebida, compreendida e aceita em seus termos.
De maneira geral, os conflitos entre anunciante e consumidor acontecerão em número cada vez menor. O que será positivo, numa sociedade em que a comunicação mercadológica tende a ser entendida como a vilã, acusada de criar necessidades e induzir ao consumismo desenfreado.
Não seria demais, aqui, apontar para a existência de injustiças nesse julgamento. A propaganda é santa? Não. Afinal, trata-se de uma atividade criada e produzida por seres humanos, que estão igualmente distantes da santidade. Mas existem boas razões para que se apresente uma defesa consistente contra esses ataques, nem sempre baseados em fatos reais.
Assim, atender às necessidades do consumidor em termos de informações sobre produtos e serviços existentes no mercado, agindo de maneira ética, esse é o sonho de consumo de toda sociedade minimamente civilizada. Agir nesse sentido é tudo de que se precisa, porque conhecimentos e habilidades sem atitude levam exatamente a lugar nenhum.
Precaver-se dos exageros da propaganda, como de outra atividade, é uma atitude inteligente. Inclusive porque ela tem a capacidade de interferir na qualidade do que vai ser produzido e veiculado a fim de aumentar os lucros. Quantidade, com qualidade e respeito à pessoa, portanto, deve ser a regra de ouro.
Quando isso acontece, dispensa-se o rigor das leis reguladoras, o autocontrole pode baixar a guarda, a relação segue tranquila, não mais como caça e caçador, mas como parceiros, se não for pedir muito. Com isso, o que se tem não é mais um inimigo a ser administrado, mas apenas um recurso que orienta e informa a quem busca por produtos e serviços que tornarão a vida mais confortável.
Finalizando, a afirmação, segundo a qual a propaganda oferece riscos, fica reduzida apenas a uma ideia, que não oferece maiores perigos, porque ocupa o seu devido lugar – nem mais, nem menos.
Agora fica a pergunta: como você vai lidar com a propaganda, a fim de evitar os possíveis danos que ela pode causar àqueles que se entregam sem critérios e se afundam num consumismo pouco inteligente? ₪
RUBENS MARCHIONI é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor dos livros Criatividade e redação, A conquista e Escrita criativa. Da ideia ao texto. http://rubensmarchioni.wordpress.com
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