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  • Foto do escritorRubens Marchioni

■ Por causa de certo reino

No Brasil, o crescimento do número de instituições religiosas chama a atenção pela desenvoltura que atingiu nos últimos anos. Em 2014, foram contabilizadas, com CNPJ, nada menos que 176 mil. Um aumento de 5% em relação ao ano anterior.

Certamente, esse processo se explique pelo crescente número de pessoas com cultura de menos e carências além da conta. Gente que busca, nos céus, alguma resposta para as suas muitas necessidades, nesta vida que, para tantos, é a antessala do Inferno. O Paraíso? Ele ficou reduzido a um projeto arquivado no livro do Gênesis, sem perspectiva de sair do papel.

Como de costume, a minha atitude cautelosa relativiza tudo o que se veste de religioso. Inclusive homens e mulheres protegidos por hábitos que, já disseram antes de mim, não fazem o monge. Aliás, nesse tempo dominado pela tecnologia, parece que o frágil silêncio dos monastérios tem pouca força para invadir uma alma e transformá-la em novo templo do sagrado, como em João da Cruz e Bento de Núrsia, por exemplo. 

Apesar do meu distanciamento, e até onde é possível, procuro manter a neutralidade necessária para tratar de assuntos delicados como esse. Tenho consciência de que os anos vividos no seminário, estudando muito, até conquistar o diploma de Teologia, inculcaram em mim certa dose de ceticismo nessa área. No entanto, minha crítica não é uma constatação fria e racional, como pode parecer. Não se trata de uma construção erguida com o aço das palavras, mas arquitetura desenhada com o sangue que alimenta a vida em todo o seu realismo existencial. 

Não tenho a pretensão de julgar o mundo. Essa tarefa, segundo o escritor francês G. Bernanos, ficará por conta das crianças – “O mundo será julgado pelas crianças. O espírito da infância julgará o mundo.”, adverte. Apenas quero dar algum palpite, ainda que equivocado e pecador, sobre o tema. É o que faço enquanto elas, ocupadas com atividades mais divertidas, não nos levam de vez ao tribunal. Piedade, por favor. ₪

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