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Foto do escritorRubens Marchioni

■ Palavras e silêncio

Nem tudo pode ser dito. Nem tudo pode ser dito em qualquer momento, em qualquer lugar. Ora, isso nada tem a ver com a perda da liberdade de expressão. Ao contrário. Lembra o nosso direito de falar e de calar. Em todo o tempo, há um tempo ideal para tudo. A pressa é má companhia, quando se deseja chegar mais longe. Senão, vejamos: a literatura mundial está repleta de obras atemporais. E isso acontece certamente porque não se trata de algo construído de um dia para o outro. Não por acaso, são textos sobre os quais o filósofo Luiz Felipe Pondé afirmou algo como “Se você não gosta de Shakespeare, não é ele que está errado. É você.” Em nossas relações o processo se repete. Simples assim.  

No mais das vezes, elas ficam reservadas à pessoa amada. Em geral, cabem nos ouvidos dos melhores amigos, daqueles que se dispõem a caminhar a mesma estrada, ouvindo nossas necessidades com a devida empatia. São palavras-sacramento, que estabelecem comunhão. Merecem a sacralidade que é privilégio dos templos. Dispensam o canto gregoriano, mas se revestem de igual solenidade. Por vezes são ininteligíveis, para que nenhuma censura se atreva a amordaçá-las e roubar-lhes o significado.

No entanto, são palavras simples. Essenciais. Como em Jesus Cristo, elas traduzem uma realidade que a Terra não pode abarcar. Falam da verdade. Do caminho. Da vida. De como chegar à plenitude, ao Absoluto. Traduzem o corpo e todo sentimento. Expõe o que de mais profundo define a alma. Por causa da sua força, atravessam o tempo e se perpetuam pelos séculos sem fim.

É assim a palavra mágica. Ela precisa ser guardada numa redoma de silêncio, até o momento da revelação. O sacrário a torna imaculada, para criar novos universos, quando os nossos forem tomados pela ferrugem e, silenciosamente, ameaçarem ruir sobre a estrada da nossa existência. ₪

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