top of page
Buscar

■ Palavras e silêncio

  • Foto do escritor: Rubens Marchioni
    Rubens Marchioni
  • 15 de jul. de 2015
  • 2 min de leitura

Nem tudo pode ser dito. Nem tudo pode ser dito em qualquer momento, em qualquer lugar. Ora, isso nada tem a ver com a perda da liberdade de expressão. Ao contrário. Lembra o nosso direito de falar e de calar. Em todo o tempo, há um tempo ideal para tudo. A pressa é má companhia, quando se deseja chegar mais longe. Senão, vejamos: a literatura mundial está repleta de obras atemporais. E isso acontece certamente porque não se trata de algo construído de um dia para o outro. Não por acaso, são textos sobre os quais o filósofo Luiz Felipe Pondé afirmou algo como “Se você não gosta de Shakespeare, não é ele que está errado. É você.” Em nossas relações o processo se repete. Simples assim.  

No mais das vezes, elas ficam reservadas à pessoa amada. Em geral, cabem nos ouvidos dos melhores amigos, daqueles que se dispõem a caminhar a mesma estrada, ouvindo nossas necessidades com a devida empatia. São palavras-sacramento, que estabelecem comunhão. Merecem a sacralidade que é privilégio dos templos. Dispensam o canto gregoriano, mas se revestem de igual solenidade. Por vezes são ininteligíveis, para que nenhuma censura se atreva a amordaçá-las e roubar-lhes o significado.

No entanto, são palavras simples. Essenciais. Como em Jesus Cristo, elas traduzem uma realidade que a Terra não pode abarcar. Falam da verdade. Do caminho. Da vida. De como chegar à plenitude, ao Absoluto. Traduzem o corpo e todo sentimento. Expõe o que de mais profundo define a alma. Por causa da sua força, atravessam o tempo e se perpetuam pelos séculos sem fim.

É assim a palavra mágica. Ela precisa ser guardada numa redoma de silêncio, até o momento da revelação. O sacrário a torna imaculada, para criar novos universos, quando os nossos forem tomados pela ferrugem e, silenciosamente, ameaçarem ruir sobre a estrada da nossa existência. ₪

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo
■ Não há vaga

Fátima estava um pouco – só um pouco – estressada quando voltou do fórum em torno das 14 horas, depois de saber, por meio do advogado,...

 
 
 
■ Abuso da falta de poder

Meu Deus, como havia gente naquela padaria! O aroma de pão saído do forno era aconchegante e convidativo. Talvez nem precisasse comprar...

 
 
 
■ Uma editora, por favor

Marina pegou o secador de cabelo que esperava por ela no sofá, ao lado da gargantilha vermelha escalada para ocupar seu pescoço naquele...

 
 
 

Comments


Faça parte da nossa lista de emails

bottom of page