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Foto do escritorRubens Marchioni

■ O tempo não espera

Desde cedo, adolescente ainda, Walter se deu conta de que estava apaixonado pela Comunicação. E não se tratava de paixão juvenil, avassaladora e com prazo de validade. Ele até andou em outros braços, que somente apontavam para atividades que não se identificavam em nada com a sua opção fundamental, aquela pela qual se está disposto a empenhar a própria vida.

Mas sempre ficava a pergunta sobre as possibilidades de chegar a esse destino. Onde estariam os meios para essa longa viagem? Conhecendo suas origens e toda a história pessoal, Walter não conseguia enxergar uma resposta para essa pergunta. Tudo bem, ela até poderia existir, em algum lugar do futuro. Mas, onde morava o Futuro para que ele pudesse ir até lá e reclamar o que era seu?

Walter sabia muito bem aonde desejava chegar. Por isso, empenhava-se ao máximo para escrever. Desse jeito poderia ao mesmo tempo falar sozinho e a uma multidão. Como profissional. Como ser humano que vive no meio de um turbilhão insistente na sua avalanche de transformações.


Walter procurava aprender e ficava a postos para ensinar o que fosse possível a quem quisesse aprender também. Sempre com o cuidado de não insistir em responder à pergunta que não foi feita. Existem professores cometem esse engano. Os alunos mais exigentes percebem. Um e outro se distanciam dentro das paredes da sala de aula.


O estudante foi mordido pelo bicho da Filosofia e da Ciência. Queria saber a verdade na sua versão mais profunda, motivo por que se empenhava em pesquisar. Quando ouvia a pergunta “Que horas são?”, pensava em outra interrogação, mais abrangente, “O que é o tempo?”, conforme sugerido pela filósofa Marilena Chauí.


Ele continua fazendo perguntas aos livros, às pessoas, à realidade, no céu, na terra e por todos os cantos desse mundo, vasto mundo, por onde caminhava com a incerteza da chegada em porto seguro.


Ele quer, a todo custo, descobrir novos segredos do conhecimento, não como algo com efeito decorativo, mas como elementos vitais. “Quanta coisa já foi dita e continuo sem saber?” – refletia. “Quanto conteúdo se esconde em cada página de milhões de livros, e eu ainda não o conheço, porque está encarcerado em páginas que não abri, na livraria, na biblioteca, na internet? Quantos caminhos foram ensinados por milhões de pessoas que vieram antes de mim e eu nunca soube ao menos onde começam? Quanto deixo de viver por não ter acesso a tantas possibilidades, da poesia à ciência?” – o pensamento era recorrente.


Ontem como hoje, Walter deseja descobrir todas as técnicas, todos os recursos e todos os truques para fazer com que sua marcenaria literária produza peças feitas com a melhor matéria prima, a partir de ferramentas de qualidade superior. Ele quer escrever e publicar. Alimentar seus leitores com experiências vividas e com projetos por viver.


Mas sente a todo instante que as palavras, as ideias, elas insistem em ser escorregadias. Parece que acendem o cigarro no relâmpago, o que dificulta seu projeto. Como se não bastasse, encara ainda outra luta: a falta de conhecimentos, habilidades e atitude necessários, esta para enfrentar tantos desafios e vencer a tentação de procrastinar, ficar cansado antes de ter feito qualquer coisa.


Fez alterações no seu ritmo de vida. Mas veio a tentação da autossabotagem. Por vezes, ele tentou provar a si mesmo que aquela missão era difícil, além das suas possibilidades. Chegou a afirmar isso, sem se dar conta de que ao se declarar incapaz, para não experimentar o gosto amargo da contradição, seu cérebro humano começa a providenciar essa incapacidade, que então se torna concreta e briga por seu espaço, em geral saindo vitoriosa. Preferir se sabotar aconteceria por receio da inabilidade de conviver com a alegria da conquista, tida por ele como algo que não lhe cabe?


Walter conheceu gente que deixou marcas em sua trajetória, apontando caminhos, gastando tempo com ele e sendo generoso no exemplo prático.


Lutando contra seus demônios, ele sabia que era preciso seguir

em frente. Foi derrubado. Derrubou. Foi derrubado de novo, outras vezes e, teimoso, sempre se levantou. Até chegar o momento em que as coisas pediam uma definição urgente.


Estrategicamente, trabalhou para priorizar sempre o que é essencial. Deixou para segundo plano o importante. E somente depois dessas duas etapas deu atenção ao que é apenas acidental. Junto das leituras e de todo o treinamento prático, junto do exercício para reforçar a atitude e permanecer em pé, retomou a elaboração de um conjunto de ferramentas iniciado anos atrás. São metodologias que potencializam o trabalho de criar, redigir e editar cada novo texto, deixando-o em condições de ser publicado.


Deu certo. Walter sabe o quanto deu certo. Deu certo porque, dentre outras coisas, ele aprendeu que a cada amanhecer, quando revisita os sonhos da noite que passou, está começando tudo de novo. Aprendendo mais um pouco do imensamente muito que nunca vai saber.


Uma nova ideia aprendida, uma nova técnica assimilada, cada atitude transformada, nada disso salva o mundo. Mas, para ele, faz uma enorme diferença.

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