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Foto do escritorRubens Marchioni

■ O medo de ser visto como antiquado

Com medo de ser visto como antiquado, Rui estava ainda no segundo ano do curso de Direito, quando decidiu comprar um novo computador, bem mais equipado. A ideia tomava forma. Teimosa, no entanto, se recusava a deixar a condição atual e se transformar em prática.


Rui falou com um vendedor e ouviu propostas de modelos, preços, formas de pagamento, facilidades, benefícios, afagos...


A decisão do futuro advogado implicava na reorganização do próprio caixa.


Assertivo e com autoconfiança, muniu-se de atitude e falou com os pais. Mas o pedido de uma verba suplementar foi indeferido “sine die”. Eles não quiseram mesmo fixar uma data futura. Seu projeto ficou ameaçado. Quem sabe na sétima instância Rui tivesse mais sorte.


O estudante estava determinado. Com iniciativa e comprometimento, enxergou uma saída para conseguir o valor que faltava a fim de bancar a compra do novo equipamento. Mesmo sem dispor de certas habilidades, indispensáveis, faria pequenos serviços, toda vez que isso resultasse em alguma economia financeira para os pais, quantia repassada para ele mediante acordo prévio a ser feito.


Sem dinheiro disponível, Julio, o pai, um operário aposentado, concordou com a proposta do filho. Fecharam um contrato verbal que prometia uma troca de benefícios entre os dois. Mas era possível perceber uma ponta de conflito em sua decisão. Julio não estava bem certo quanto à maneira de administrar e decidir sobre o assunto. Faltava-lhe a consistência das decisões amadurecidas quando se vivia num mundo que não era líquido, para recordar o lendário Zygmunt Bauman.


Mas então chegou o momento de iniciar um trabalho também adiado: a pintura da velha casa paterna. Para realizar a tarefa, numa parceria, Rui deveria se equilibrar sobre uma escada com nada menos de 25 degraus. Tudo com a costumeira ausência de equipamento de proteção.


Quase tudo ia bem. Até que, distraídos, os olhos do pintor improvisado correram muito rapidamente de baixo para cima, e para baixo, mirando o chão e focando no perigo em forma de cimento bruto. O medo, seu antagonista nessa história, revelou uma presença forte e ameaçadora.


Rui esboçou movimentos incertos com as mãos. O corpo dançou sobre os degraus estreitos. Ouviu-se um sussurro que desejava ser um grito. A escada seguiu a coreografia do corpo incerto. Coreografia sem ritmo, nem harmonia, em direções opostas e confusas. O sussurro gritou, enfim, acompanhando o corpo de Rui, que beijou o chão frio e sujo.


Veio o socorro, tão rápido quanto estressado em sua sirene. Médico e enfermeiros se apressaram. Passado o período de observação, Rui voltou para casa. Na bagagem, levava algumas escoriações que não pôde evitar, e encontrou o também inevitável sentimento de culpa no pai que desejou fazer o melhor. Isso, além do susto e do propósito de nunca mais se aventurar sobre uma escada com essa altura.


Mas ele não queria desistir daquela obra, que financiaria, em parte, o seu projeto. Com todos os cuidados e munido de equipamentos de segurança, retomou o trabalho e concluiu, detalhe por detalhe, o que se propôs executar.


Rui conquistou o seu prêmio. Comprou o novo computador. Contou sua história a quem se dispôs a ouvi-la – um auditório esparso. Falou sobre iniciativa e adequação. Algumas pessoas aprenderam com ele.


Rui decidiu. Trabalhou. Aprendeu. Cresceu. E está pronto para novas decisões.


PrimeiЯa versão O desejo de Valquíria de que a emoção fizesse o seu melhor trabalho era tão intenso que ela investia pesado na razão para conseguir isso. O resultado dessa prática diária e bem calculada era emocionante. Afinal, a vida é muito exigente para ser tratada apenas com os recursos da emoção. Razão e emoção: trabalhando em parceria, essa dupla faz milagres.

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