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Foto do escritorRubens Marchioni

■ O barco está afundando

A necessidade de garantir a sobrevivência biológica tem a força de um furacão. É bem mais forte do que combustível de avião.  Daí, para se dispor a entrar num barco sem destino, em busca de um rumo incerto, é um pulinho. A vida grita. Pede movimento. É preferível morrer tentando. Isso é mais digno do que ficar parado, feito poste, pesando sobre todos e esperando por um milagre. Comodismo é pecado. Pecado mortal.

Assim tem acontecido com tantos indigentes que vivem em países castigados pela guerra e massacrados pela fome e miséria, cujas causas são conhecidas. Com olhos pregados na velha Europa, eles se põem em marcha, enfrentando toda sorte de azar e perigo – inclusive aqueles causados pela ganância de quem têm um pouco mais – e morrendo aos milhares. No mais das vezes, os que conseguem realizar a viagem vão para fábricas, onde trabalham como escravos brancos, com um débito eterno de gratidão ao empregador.

Mas agora, o problema está saindo do controle. Se, por negligência, as chamadas autoridades competentes não se emprenharem em trabalhar questões como justiça e paz, a fim de evitar que estes e outros problemas sociais se avolumem, teremos a inevitável instauração do caos, um crime com propósito de matar.

A grande vilã chamada desigualdade precisa deixar de atuar na grande trama da nossa vida. A justiça tem de roubar a cena, em grande estilo. Encantar auditórios e movimentar nações: as pobres, para que reivindiquem; as ricas, para que dividam.

Só isso vai provocar o clima de confiança no poder, necessário à governabilidade, e nas possibilidades humanas de uma convivência pacífica, viabilizando a realização de projetos pessoais e globais. Qualquer outro comportamento vai resultar em fracasso inevitável, traduzido em tragédias e convulsão social. E nesse caso não adianta chorar os barcos afundados. Nem as vidas perdidas.  


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