Ser apenas meio intelectual? Impossível. Entretanto, vá dizer isso ao Paulo Ignássio. Impossível também. Ele se nega a entender coisas assim, que não exigem pós-doutorado em Filosofia na Alemanha e até eu já entendi.
Durante uma conversa, faço-lhe o desafio: – Pergunte a um escritor, se ele consegue deixar de ter habilidade no trato com as palavras. A um arquiteto, se ao entrar em uma casa, por exemplo, tem o poder de se desligar de todos os seus conhecimentos sobre o assunto e ter isenção absoluta.
E o livre-docente? Conseguirá pensar, agir e falar como analfabeto? Ainda que insista, essa decisão sempre estará profundamente marcada por toda a sua intensa cultura, no mais das vezes, obtida na escola. Ou seja, na opção pela ausência se manifesta toda a sua presença.
Convidei-o, então, a imaginar a cena, hipotética: o executivo Ferdinando vai dispor de apenas uma lata de alumínio para tomar água. Certamente o seu novo “copo” não será de uma dessas marcas popularescas, recolhido na rua. O rótulo, impecável, estampará ícones como Heineken ou Budweiser. Ao contrário da outra, este será um recipiente obtido num restaurante badalado. Sua abertura, rigorosamente bem acabada. Quase arte.
Tudo bem, insisti, talvez o Ferdinando tente o caminho oposto. Mas até essa decisão terá como base a sua vivência com o assunto, em algum momento do passado. Como escolher entre uma coisa e outra, se, antes, não se dispõe de conhecimentos para tomar uma decisão?
Mesmo assim, o Paulo Ignássio vive pedindo às pessoas que sejam menos intelectuais, menos isso, menos aquilo; aqui tudo bem, mas ali…
Atendê-lo? É possível. Um dos caminhos é a amnésia. O outro, pede missa de sétimo dia. Mas nem é saudável falar sobre isso agora. ₪
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