Você não conhece o Maurício. Mas quem convive com ele sabe, com todas as letras, o quanto lhe pesa a solidão imposta. Tenho a impressão de que entendo o seu drama. Se não por ser especialista em comportamento humano, que decididamente não sou, ao menos por essa amizade que se dá o direito de comemorar a passagem de tantos anos.
Meu quase irmão entra em estado de alerta máximo, se não tem ao seu lado um pouco de abraço, um punhado de vozes que façam sentido, uma porção de sorriso. Ingredientes que ele tem de sobra para dar, e deseja receber um pouco mais do que apenas aquilo que sobrou.
Nessa luta, ele repete para si mesmo, em forma de contrato interior, o pensamento da escritora Clarice Lispector: “… Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.” Constatada a impossibilidade de êxito, a segunda opção é aceitar a vida de eremita. Porque uma floresta não se faz com uma árvore apenas. Ela requer a presença orquestrada de outros seres que a completem.
Reagindo, Maurício empenha-se na conquista do seu espaço de convívio com este ou aquele grupo. Luta pela experiência, vital, de pertencer, o que não guarda qualquer relação com a ideia de ser tratado como o centro do mundo.
Tudo me leva a crer que o educador Rubem Alves, que foi embora antes do combinado, não se enganava em sua perplexidade diante de relatos como este. Ele demonstrou uma estranheza inegável com o fato de dedicarmos tanta atenção à oratória e quase nada ao que chamou de “escutatória”. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. ₪
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