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■ Lord, parla for me. Amém

  • Foto do escritor: Rubens Marchioni
    Rubens Marchioni
  • 29 de set. de 2021
  • 2 min de leitura

Em alguns ambientes, a falta do domínio do idioma local significa um problema, sim, mas não impede a possibilidade de tomar um café, ainda que a comunicação aconteça de um jeito confuso.


Para quem acredita no Pentecostes, evento ocorrido após a ressurreição de Cristo, a experiência precisa ser repetida com frequência: cada um fala seu próprio idioma e, no entanto, os dois se entendem. Às vezes é indispensável que Deus fale por mim. Ele sabe, como ninguém, misturar idiomas como o português, o italiano e até mesmo o inglês britânico.


Não sejamos injustos: o Nero Café, em Northampton, Inglaterra, está longe de ser uma cafeteria como todas as outras.


Certa vez, o mestre W. Bertini abriu o texto de um spot com a frase “Contra fatos não há argumentos.” Nostalgia à parte, um fato garante o diferencial do Nero: é aqui o lugar onde saboreio novamente o Loacker – Cremkakao, wafer recheado com um delicioso creme de chocolate, maravilha que experimentei primeiro, na Garfagnana, Itália.


Hoje, quando entrei, fiz uma prece: “Senhor, repita aqui o milagre de Pentecostes. Eu falo inglês com o balconista e o Senhor faz com que ele não se irrite e até me atenda, conforme as minhas parcas necessidades. Amém”. Corta.


Durante os oito anos em que estive no seminário, ouvi gente afirmar que não entendia o repentino silêncio de Deus. Principalmente depois de ter dado provas da sua competência, ao encher de palavras o espaço equivalente a 72 livros da Bíblia, versão católica.


Puro engano. Do alto, em linguagem atualizada, veio a resposta. “Na boa, fala com o brother do caixa e pede o chocolate. Ele vai atender e até ajudar a separar as moedas.” E prosseguiu: “No que depender de mim, você não vai pagar o mico de meia hora atrás, quando se sujeitou a comer um salgado e tomar um enorme cappuccino, ao mesmo tempo, só porque não acertou na hora de informar que a ordem desses fatores altera, e muito, o paladar. Admirei seu estilo quase britânico. Mas confesso que meu estômago ficou levemente confuso com tudo aquilo”.


Deus, a Palavra por excelência, sempre diz mais alguma coisa quando se trata de socorrer um filho em apuros. E finalizou: “Depois, quando for escrever a crônica da semana, mencione o Nero. Alguns vão dizer que é jabá; outros, que é matéria paga; merchandising. Liga não. Até já disseram que o crucifixo é apenas um logotipo. Eu sei que foi uma troca de gentilezas entre vocês, cliente e fornecedor, e contra esse fato, nem eu tenho argumentos.”


Pedi a saideira. “Uno espresso, please. Grazie”. Como até agora não recebi voz de prisão por duplo homicídio, flagrantes e muito bem qualificados, sinto-me à vontade para retomar na próxima semana. Desde que Deus aceite novamente a condição de cúmplice. Sozinho, never.

 
 
 

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