Quando andamos pelas ruas com os olhos abertos, pedalando a passos lentos na paisagem, podemos ouvir a sua voz. Não raro, ela é um gemido. Basta um pouco de atenção para entender a sua mensagem. E então descobrimos o valor que os animais de estimação conquistaram na sociedade humana: eles já não vivem sob pontes ou viadutos.
A propósito disso, convém lembrar a antiga mensagem publicitária, tão criativa quanto adequada, alertando para o fato de que gente também é bicho. Manuel Bandeira retrata bem a situação, em poema contundente: “O Bicho // Vi ontem um bicho // Na imundície do pátio // Catando comida entre os detritos. // Quando achava alguma coisa, // Não examinava nem cheirava: // Engolia com voracidade. // O bicho não era um cão, // Não era um gato, // Não era um rato. // O bicho, meu Deus, era um homem.”
Algo me diz que essa inversão pode acabar mal. Peçamos a Deus para que um surto repentino de consciência não venha interromper o sono dos adormecidos. Seria terrível, uma tarefa gigantesca essa de conter os gritos de tantas crianças, adolescentes, jovens e velhos caminhando, guerreiros furiosos, em nossa direção. O que fazer diante de tantos animais famintos de tantas necessidades e desejos, com data de validade vencida? ₪
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