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Foto do escritorRubens Marchioni

■ Em busca de um caminho

Era terça-feira. Manhã de outono com prazo de validade perdendo fôlego, o inverno reclamando seu espaço. Eu almoçava num restaurante a poucos metros da universidade. Era minha parada obrigatória depois de passar a manhã inteira na sala de aula ensinando Comunicação.


– Antonella, puxa uma cadeira – eu disse à minha colega que acabara de chegar para o almoço. – Como foi a aula?

– Foi – respondeu, sem entusiasmo, enquanto escolhia seu prato e chamava o garçom.

– Foi... Me conta o que aconteceu.

– Olha, sinceramente eu não sei mais o que faço – ela respondeu.

- Do que você está falando?

- Dos alunos. Os alunos querem muito pouco da escola – respondeu, agitada.

– Eu sei. Eu sei – respondi. – E como andam as coisas?

– Sei lá. Hoje tentei outro caminho, bem diferente, “a segunda resposta certa”.

– Fiquei curioso – respondi, com um sorriso discreto e interessado.

– Bem, você sabe, eu já tentei todos os recursos – ela disse.

- Sei, eles não pensam no que vem depois da faculdade – emendei.

- Já insisti em que o mercado de trabalho só abre espaços para profissionais bem preparados.

- Nenhum resultado?

- Não adiantou nada. Nada adiantou – respondeu, ajeitando o cabelo que chegava até o ombro e balançando a cabeça.

– Você disse que hoje tentou outro caminho... – procurei retomar o assunto.

– Eu disse “Tudo bem, se você não quer estudar para ser um profissional, estude ao menos para, se um dia for preso, ter direito a cela especial”. Sei lá, a gente nunca sabe o que pode ser motivador. Valia a pena tentar. E foi o que eu fiz.


– Minha amiga – eu disse – estamos no mesmo barco. Lutamos contra a mesma correnteza. Ontem eu também mudei de estratégia.

– Fiquei interessada – disse Antonella, mais calma e com ar de cumplicidade.

– O problema é o mesmo. O estresse é o mesmo – eu disse.

– Me conta, o que você fez? – disse Antonella, visivelmente interessada na minha experiência.

– Falei o seguinte: “Gente, esta sala tem sessenta alunos. Mas na verdade eu dou aula apenas para seis ou sete, os que vão para o mercado de trabalho.”

– Qual foi a reação dos alunos? – Antonella ajeitou-se na cadeira.

– Alguns ficaram incomodados com essa conta. Um deles perguntou “Professor, se é assim, por que a faculdade aceita a matrícula dos outros 50?”

– Minha resposta foi simples: “Porque alguém precisa bancar os estudos desse pequeno grupo que vai se sobressair.”

– Bem, acho que ninguém está muito disposto a continuar patrocinando colegas que um dia talvez se tornem seus superiores – disse Antonella.


Pedimos um cafezinho e a conta. De volta para casa, lembrei-me de outra situação. Era o caso de um educador que trabalhava numa instituição que acolhia adolescentes vivendo em situação de risco.


Sem criar polêmica ou fazer um sermão repleto de moralismo, ele sugeriu à sua aluna, ainda uma garota: “Se você quer ser prostituta, tudo bem, o corpo é seu. Mas estude Matemática ao menos para saber fazer contas na hora de se vender. Estude Português, para não sair dizendo coisas como ‘a gente vamos’ – isso seria decepcionante. Tenha cultura geral. Assim você não vai dar vexame ao sair com alguém a fim de um bom papo com uma mulher capaz de entender a sua linguagem. Esses homens costumam falar do conturbado mundo dos negócios, da política, da economia e vai por aí afora. Você perderia muitos clientes.” – advertiu.


Inicialmente, a menina estudou com esse objetivo – queria ser uma prostituta de sucesso, com clientela da classe A. Mas, enquanto isso, as leituras a levaram a descobrir que poderia tomar outro rumo. Conta-se que hoje ela é uma grande médica, muito respeitada no seu meio.


No carro, entre uma música e outra, continuei refletindo sobre o assunto e depois escrevi a respeito. Em meu artigo também procurei mostrar que, em casa, quando um adolescente questiona um conceito, aí está uma ótima oportunidade para convidá-lo a ler e pesquisar sobre aquele assunto. Esse é um desafio que vale a pena.


Mais do que somente aproveitar as oportunidades que batem à nossa porta, é indispensável que outras sejam criadas. Afinal, somos os roteiristas da nossa vida.


Situações como estas não poderiam ser melhores como pretextos para despertar-lhes o gosto da descoberta e de saber mais e mais, de resolver problemas reais e se sobressair. Pena que para muitos pais e responsáveis, o ato de estudar seja algo rigorosamente separado de viver, o que é uma dualidade sem qualquer sentido. A conta não fecha. Não vai fechar nunca.

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