■ De onde tiramos essa ideia?
- Rubens Marchioni
- 4 de ago. de 2011
- 2 min de leitura
É triste perceber como, sobretudo depois de certa idade, nos adequamos com mais facilidade a tudo o que recebemos no convívio com a escola, a Igreja e com outras renomadas instituições dedicadas à nossa [às vezes] boa de-formação. Por causa dessa submissão, quase tudo diante dos nossos olhos se torna pecaminosamente imoral; quase tudo passa a significar uma demonstração vulgar de falta de pudor, coisa dessa juventude que está perdida, sem conserto, incapaz de perceber a dura realidade da vida. [A vida tem de ser, obrigatoriamente, uma dura realidade, nunca uma fonte de prazer].
Claro que sabemos que o clima no planeta está pesado. Denso e feio. Mas nos recusamos aceitar a ideia de que um beijo, e não uma agressão, tem um poder incrivelmente grande de limpar e desinfetar esse ar, poluído por brigas e demonstrações de força entre pessoas físicas e jurídicas [não raro, a começar pelas quatro paredes da casa em que vivemos].
Um exemplo disso? O casal jovem que se permite a diversão. A brincadeira. O riso. A travessura, que por vezes esconde uma surpresa gostosa. Existe a rotina? Tudo bem, eles brincam dentro e apesar da rotina. A falta de dinheiro pesa? Sem dar importância absoluta a isso, substituem o suco natural pelo refrigerante de segunda linha e se divertem com o fato. O bife queimou? “Simbora pra padaria tomar um lanche”, e lá se vão os dois, rindo e se divertindo com o incidente como se tivessem acabado de receber um grande prêmio. Isso é ser feliz. Feliz com o que se tem. Nem sempre por causa, mas às vezes apesar de. E ser feliz é absurdamente simples. Quando se quer. De verdade.
Outro exemplo. Certos de que estão respeitando os pais, que moram juntos, e os filhos, que não têm de ser expostos a essa pouca-vergonha praticada por dois adultos sérios, marido e mulher tendem a fazer tudo para poupá-los de cenas compostas por abraços, beijos, declarações de amor e outras coisas igualmente deliciosas. Claro, estes últimos, às vezes em fase de formação, poderiam aprender cedo essas coisas, gostar e, o pior, querer repetir em seus relacionamentos no futuro. No entanto, uma boa briga entre os dois, na frente das crianças, isso pode – acreditam. É saudável. Acima de tudo, um duelo, com seu poder o poder de destruir o outro, é nada mais que uma demonstração, bélica e educativa, de que alguém ali “não tem sangue de barata”. A mensagem que se esconde por trás da pancadaria verbal, dirigida à platéia, é “Veja como eu resolvo as coisas e tenha cuidado, a próxima vítima pode ser você”.
Ora, se é verdade que quem bate para ensinar está ensinando a bater, também é certo que quem aborta o beijo, que deseduca, mas permite a briga, que fere, está ensinando a…
Mesmo assim, segue-se em frente. Sérios e graves. No mais das vezes, casados. Gentileza? Elegância? Demonstração de afeto? Um pouco de poesia e humor? Não. Porque está decretado: tudo isso é frescura, coisa dessa juventude perdida, ou de gente imatura, que não tem os pés no chão. Como se não nos fosse permitido passear no espaço que há entre a terra e o céu, enquanto o Paraíso não vem. ₪
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