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Foto do escritorRubens Marchioni

■ Como São Francisco de Assis

Com a regularidade necessária, eu ia visitá-la. Tudo começava no momento da recepção: gente recebia gente como gente deve ser recebida. Não era preciso apresentar comprovante de tempo de convivência. Isso não decidia a qualidade da acolhida. Os critérios eram outros, infinitamente mais nobres. Minhas credenciais de ser humano, e ainda mais de um quase membro da família, me habilitavam a receber todo tipo de gentileza, da chegada à despedida.

Acomodado naquele lugar, vinha à minha mente a metodologia de evangelização empregada pelo Poverello de Assis. Nele, os gestos garantiam tamanha eficácia ao trabalho a ponto de poder dispensar o som das palavras. 

Aluno observador que sou, prestava atenção silenciosa aos pequenos atos daqueles cuidadores e cuidadoras. Eles estavam empenhados, 49 horas por dia, com a tarefa de garantir o conforto merecido pela nossa querida tia.

Minha reação imediata, vendo tanto carinho, dedicação e competência, era de admiração, medo e impotência. Admiração que se tem pelos mestres, quando estes exercem seu ofício diante de nós. Medo e impotência por saber que jamais alcançarei tal nível de perfeição.

Naquele espaço, um discípulo será sempre um discípulo. E a ideia de um dia superar os mestres é pouco menos que uma grotesca e descabida pretensão. Paulo não supera Jesus. Porque se o primeiro tem a disposição da vontade, o segundo tem a insuperável divindade. Ora, o que eu assistia, com meus olhos terrenos, era divino. Impossível de ser alcançado.

Voltava daquela visita, experimentando um encantamento questionador e sem resposta para a pergunta se eu seria capaz de pensar e agir como aqueles cuidadores: tão fraternos com as visitas e entregues, de maneira tão intensa, ao trabalho de cuidar daquela tia envolvida numa batalha decisiva.  

No último final de semana, tive a aula magna de encerramento desse intenso processo de evangelização. Numa grande festa, que aconteceu no céu, Deus inaugurou a sua nova casa. O Pai devia estar com uma imensa saudade da filha e decidiu que havia chegado a hora da sua garota voltar. Hoje, ela certamente estará brincando com os anjos. Atenta, ouve de Gabriel a experiência vivida, quando anunciou a Maria que ela fora a escolhida para ser a mãe de Jesus, enquanto outros santos se distraem com tantas delícias a serem desfrutadas por uma eternidade, nos jardins do Paraíso. 

Por aqui, ficou a gostosa mistura de aprendizado e saudade. Por aqui, fica a minha gratidão por ter convivido com pessoas que deixaram em mim a consciência de que não sou mais que um discípulo desses cuidadores, e a vontade de ser melhor. Só os santos conseguem produzir tais milagres. Amém. ₪

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