top of page
Buscar

■ Como São Francisco de Assis

  • Foto do escritor: Rubens Marchioni
    Rubens Marchioni
  • 1 de abr. de 2015
  • 2 min de leitura

Com a regularidade necessária, eu ia visitá-la. Tudo começava no momento da recepção: gente recebia gente como gente deve ser recebida. Não era preciso apresentar comprovante de tempo de convivência. Isso não decidia a qualidade da acolhida. Os critérios eram outros, infinitamente mais nobres. Minhas credenciais de ser humano, e ainda mais de um quase membro da família, me habilitavam a receber todo tipo de gentileza, da chegada à despedida.

Acomodado naquele lugar, vinha à minha mente a metodologia de evangelização empregada pelo Poverello de Assis. Nele, os gestos garantiam tamanha eficácia ao trabalho a ponto de poder dispensar o som das palavras. 

Aluno observador que sou, prestava atenção silenciosa aos pequenos atos daqueles cuidadores e cuidadoras. Eles estavam empenhados, 49 horas por dia, com a tarefa de garantir o conforto merecido pela nossa querida tia.

Minha reação imediata, vendo tanto carinho, dedicação e competência, era de admiração, medo e impotência. Admiração que se tem pelos mestres, quando estes exercem seu ofício diante de nós. Medo e impotência por saber que jamais alcançarei tal nível de perfeição.

Naquele espaço, um discípulo será sempre um discípulo. E a ideia de um dia superar os mestres é pouco menos que uma grotesca e descabida pretensão. Paulo não supera Jesus. Porque se o primeiro tem a disposição da vontade, o segundo tem a insuperável divindade. Ora, o que eu assistia, com meus olhos terrenos, era divino. Impossível de ser alcançado.

Voltava daquela visita, experimentando um encantamento questionador e sem resposta para a pergunta se eu seria capaz de pensar e agir como aqueles cuidadores: tão fraternos com as visitas e entregues, de maneira tão intensa, ao trabalho de cuidar daquela tia envolvida numa batalha decisiva.  

No último final de semana, tive a aula magna de encerramento desse intenso processo de evangelização. Numa grande festa, que aconteceu no céu, Deus inaugurou a sua nova casa. O Pai devia estar com uma imensa saudade da filha e decidiu que havia chegado a hora da sua garota voltar. Hoje, ela certamente estará brincando com os anjos. Atenta, ouve de Gabriel a experiência vivida, quando anunciou a Maria que ela fora a escolhida para ser a mãe de Jesus, enquanto outros santos se distraem com tantas delícias a serem desfrutadas por uma eternidade, nos jardins do Paraíso. 

Por aqui, ficou a gostosa mistura de aprendizado e saudade. Por aqui, fica a minha gratidão por ter convivido com pessoas que deixaram em mim a consciência de que não sou mais que um discípulo desses cuidadores, e a vontade de ser melhor. Só os santos conseguem produzir tais milagres. Amém. ₪

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo
■ Não há vaga

Fátima estava um pouco – só um pouco – estressada quando voltou do fórum em torno das 14 horas, depois de saber, por meio do advogado,...

 
 
 
■ Abuso da falta de poder

Meu Deus, como havia gente naquela padaria! O aroma de pão saído do forno era aconchegante e convidativo. Talvez nem precisasse comprar...

 
 
 
■ Uma editora, por favor

Marina pegou o secador de cabelo que esperava por ela no sofá, ao lado da gargantilha vermelha escalada para ocupar seu pescoço naquele...

 
 
 

Comments


Faça parte da nossa lista de emails

bottom of page