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■ Cinquenta minicontos

  • Foto do escritor: Rubens Marchioni
    Rubens Marchioni
  • 12 de jan. de 2022
  • 4 min de leitura

■ Precisava compulsivamente rezar ou fazer o sinal da cruz em certos horários ou locais. Isso não ajudou em nada na entrevista de emprego. “Deus me livre!” – pensou o entrevistador.

■ Quando foi acordar, de manhã, para retomar seu trabalho, se deu conta de que não estava mais aqui.

■ Preocupava-se demais com a possibilidade de ter dito algo errado ou impróprio ao supervisor. Apesar do desejo de pertencer a um grupo, decidiu que não seria visto naquela festa.

■ Enquanto um mágico encantava as crianças e divertia a todos, a porta dos fundos permanecia aberta.

■ De repente, convocaram uma reunião de emergência. A casa tremeu. A madrugada ficou acordada.

■ – Já passa do meio-dia e ainda não inventei um adversário pra atacar. Preciso me manter na mídia. O resto pode esperar – reclamou consigo mesmo diante do espelho.

■ Aproveitando a escuridão da noite, o perigo saiu para trabalhar. Logo encontrou o que fazer.

■ Depressa! Depressa! Vamos! Corre!! – gritou, ainda mais alto que a altura.

■ Depois de correr um mundo, finalmente deu um salto na direção do desconhecido. O terreno o acolheu de braços abertos e lhe deu asas. Eureka!

■ Sofia estava muito ansiosa quando, de madrugada, bateram à sua porta. A fechadura emperrou.

■ A lâmpada do quarto permanecia acesa madrugada adentro. Tudo o mais havia se apagado.

■ Satisfeito demais com a carreira, o músico esperou a aprovação do gordo orçamento apresentado. Sem dinheiro, alguns idosos até entenderam.

■ Naquele Corretor descuidado, o sentimento extremo de segurança o levou a encontrar muito cedo o lugar onde ninguém desejava morar.

■ Pouco depois a porta se abriu e ninguém acreditou em tamanha transformação.

■ Estava difícil acomodar sensações como alegria e ansiedade no mesmo espaço de apenas uma vida. Tentou.

■ Quando enfim se mudou de casa abriu a caixa, inocente até prova em contrário. Mas a prova chegou.

■ No rosto da menina havia um turbilhão de entusiasmo. Na alma da menina se agitava um mar de incertezas. Só faltava decidir o caminho.

■ Uma semana depois da conversa chegou uma carta inesperada. Ela trazia uma longa viagem.

■ Todas as manhãs, aquela criança chorava, chorava muito e era impossível não saber o quanto chorava. Não chora mais.

■ Quando a enfermeira entrou no quarto, o paciente já havia saído, levando um frasco de soro e apenas um sapato.

■ Uma pessoa inesperada chegou. Não conseguiu explicar que estava ali somente por que..., por que...

■ Naquela manhã escurecida, olhou pela janela e seus olhos se recolheram. O frio intenso decretou-lhe um lockdown inegociável. Ou não.

■ As crianças foram acomodadas no banco de trás, para que tivessem um longo futuro pela frente. A viagem começou.

■ Na tarde indecisa, vestiu o casaco, entrou no carro e pegou uma estrada cheia de promessas.

■ Depois do descuido que jogou a carta no vão escuro, onde foi pisada pelo trem, seguiu viagem até um horizonte qualquer. A vida mudou. De lugar.

■ Helena estava na rua quando aquele estranho lhe entregou uma pasta. O conteúdo lhe pesou até ontem.

■ Ele trovejou para alertar o inimigo de que a chuva de ataques seria torrencial. Quem avisa amigo é?

■ Na gaveta esquecida de um enorme guarda-roupa se escondia uma antiga carta que revelava todo o segredo.

■ Chegou correndo. O clima anunciava a resposta desejada. Mas ele deveria mudar de país.

■ Logo cedo procurei pela sua luz. Mas todos os dias ficaram escuros. Pelo menos isso ela deixou comigo.

■ Depois de tudo, também capitaneou a própria derrota. E foi vitorioso.

■ Fugiu da solidão para não enfrentar os próprios sentimentos. Na estrada, tropeçou em cada um deles. Voltou.

■ Depois de tudo, as palavras ficaram mudas. Os silêncios, tagarelas. Um som estridente no tempo abafado.

■ Teria chegado antes, não fosse o dilúvio. Na prova, respondeu até a questão impossível. Saiu. Mais importante era a pergunta se a casa ainda estaria lá.

■ Na montanha russa, gritou, gritou, gritou, gritou, gritou. Silenciou. Fim da diversão.

■ Disposto a consumir vorazmente, o fogo transformou seu alimento em cinza. Vomitou fuligem e pediu mais. Vingativo, tinha o olho maior que o estômago.

■ Apesar de tudo foi trabalhar. A viagem foi longa. A tranquilidade, breve. Apesar de tudo.

■ Quando subiu na árvore, ele sabia que o fruto estava na ponta mais distante do galho mais alto. Puf!!

■ Atrasado, correu até o estádio. Mas o ingresso ficou na outra calça.

■ Zzzzzzzzz. Ele era muito, muuuuuito caaaalmo. Para morrer de repente, demorou uma semana. Setenta dias depois foi celebrada a missa de sétimo dia.

■ No último passo da dança, ele dançou.

■ Naquele dia, o jogo começou depois do apito final.

■ Cláudia gostava de café. Cláudia gostava muito de café. Cláudia não tinha limites. Na regressão de idade, descobrira que o pai, ausente, a impediria de ingerir esse líquido estimulante.

■ Julio, um menino camponês, tinha nove anos, mas não tinha mochila. Na volta da escola, passou por um posto de combustível. Mas aquele dia foi diferente. Surpreso, viveu o momento feliz em que um muro esquecido lhe ofereceu uma caixa vermelha, vazia, de câmara de ar Firestone – um luxo. Julio encaixotou cadernos e vivências essenciais como o ar que respirava.

■ Naquele pedaço do mundo, a violência não dava trégua. A indignação era insuficiente para conter a agressão corriqueira. Então a pequena árvore ficou triste e não resistiu à morte da sua companheira. Foice.

■ O medo de ficar mentalmente incapacitado tomou conta daquele jovem com antecedentes familiares. Um grande projeto esperava sua lucidez. Sem dinheiro e sem tempo, usou grandes doses de exercícios e muita vontade.

■ Não havia traços de bondade no rosto sombrio do homem bruto que a esperaria na porta da pequena casa. O tempo que os separava era curto demais. No entanto, podia haver uma saída. Ninguém ouviu falar do paradeiro daquela mulher desde então.

■ Depois de tomar o café da manhã – um pedaço de pão que sobrou de ontem – aquele negro cortou cana, cortou o último sonho, cortou a vida. Fim.

■ Quando acordei, a porta escancarada denunciava, num sussurro entristecido, que ela já estava bem longe de mim e de tudo o que sonhei pra nós dois. Chorei.

■ O corrimão pegajoso ajudou a atingir o chão antes que percebesse. Olhou para cima e não viu nada nem ninguém.

 
 
 

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