■ Campeões de audiência
- Rubens Marchioni
- 5 de set. de 2012
- 6 min de leitura
No ar, os meus campeões de audiência
A minha viagem pela TV começa no domingo. O programa humorístico Os caras de pau, da Globo. Sem contar que os humoristas Leandro Hassum e Marcius Melhem são ótimos. Afora isso, recuso-me a ficar diante do Faustão. Fantástico? Não, muito obrigado. Começar a semana com um festival de desgraceira faz mal à saúde. “Encontrado o corpo não sei de quem”. “Preso o não sei quem que matou a namorada”. Afinal, o que me acrescentam esses fatos? De que me serve saber que um carro pegou fogo na Zona Leste ou que um caminhão…? Muita informação, inútil, e nenhum conhecimento. Não dá. Tenho mais o que fazer.
É domingo e a Cultura me oferece o recém criado Legião Estrangeira, comandado por Mônica Teixeira. Uma reunião de correspondentes internacionais, encontro em que analisam os principais acontecimentos da semana por esse mundo de meu Deus. [Eles não acreditam, imagine só, que a Santíssima Trindade ficaria mais completa assim: Michel Teló, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, como corre por aí]. Imperdível.
Depois, no GNT, vejo o Programa do Jô, que sempre tem bons papos com boa música no final. No Marília Gabriela Entrevista, a conversa com pessoas interessantes em suas respectivas áreas é uma constante. Por fim, a Globo News me mostra o inteligente Manhattan Connection. O programa, feito em Nova York, tem o comando de Lucas Mendes, que também é colunista da BBC de Londres. Participam profissionais como Caio Blinder, correspondente da Rádio Jovem Pan em Nova York e colunista; Ricardo Amorim, economista e um dos poucos que antecipou a crise européia em 2010 e suas consequências, falando de São Paulo; Diogo Mainardi, direto de Veneza; e de Nova York, Pedro Andrade traz ótimas dicas culturais e gastronômicas.
Tudo bem, o pacote inclui o indigesto Diogo Mainardi. O mesmo que numa edição recente do Roda Viva, da Cultura, declarou que seu objetivo enquanto mantinha uma coluna na revista Veja era pra lá de limitado: esculhambar o Lula. Afirmando que a Dilma é nada para ele, de novo sua participação na mídia tem o único objetivo de detonar o que e quem quer que seja. Ora, ter uma coluna ou participar de um programa apenas para esculhambar uma pessoa é falta de assunto. Dizer que alguém é nada é ignorar o básico: todo mundo é pelo menos alguma coisa, não importa para que ou para quem. Mas a inteligência dos outros membros do programa neutraliza os efeitos dessa presença inconveniente. E vamos dormir, que amanhã é segundona braba.
Novela? Só em casos especialíssimos. SPTV? Jornal Nacional? Todo esse Festival da Desgraceira? “Preso o não sei quem que matou a namorada”. Não, muito obrigado.
Sempre com dois livros à minha disposição, para emergências ou alguma espera – agora estou desbravando um sobre Filosofia e outro que traz um ótimo conteúdo sobre criação de Propaganda – sigo por outros caminhos. Na viagem pode entrar um bom filme, não importa o canal de onde venha. Por questões pessoais, ainda prefiro a sala de cinema.
Na Globo News, vejo uma parte do Globo News em Pauta. O jornalístico é ancorado por Sérgio Aguiar. Participam profissionais interessantes, informando e comentando fatos relevantes. Do escritório de São Paulo, Elisabete Pacheco e Michelle Duffour informam sobre Cultura, enquanto Thaís Herédia fala de Economia; em Brasília, Gerson Camarotti ou Eliane Cantanhêde, colunista do jornal Folha de S. Paulo, comentam a vida política do Planalto. Direto de Nova York, Jorge Pontual e Sandra Coutinho analisam o que acontece na Big Apple. Tudo com uma vantagem adicional: o programa tem um gostoso toque de humor, que lhe cai muito bem. Tudo muito melhor, infinitamente melhor do que qualquer Chayene, que Deus todo poderoso nos proteja e ele, que é do ramo, há de nos proteger, amém.
Com muito gosto e certeza sair ganhando, troco a avalanche de notícias jogadas goela abaixo pela estrutura sem-graça do Jornal Nacional pelo competente Jornal da Cultura. Além da Maria Cristina Poli, âncora que vai além da simples leitura mecânica das notícias, duas pessoas a cada edição compõem a bancada: filósofos, professores de grandes universidades, médicos, advogados, economistas e vai por aí afora. A notícia pensada, comentada, analisada, respeitando a inteligência do telespectador. Como deve ser.
Em geral, fico por aí, para receber o entrevistado do Roda Viva, programa que tem à frente o jornalista Mario Sergio Conti. Gente interessante sabatinada por pessoas idem, dotadas do nível cultural indispensável para se fazer um bom programa. A noite termina com o que posso alcançar do CQC, na Band, pilotado pelo irreverente Marcelo Tas. Mais jornalismo inteligente e bem humorado, feito por uma equipe que tem sempre uma pergunta ou observação relevante e gostosa na ponta da língua. Um serviço público de primeira linha. Tanto que o Congresso Nacional quer ver esse grupo pelas costas, e o programa só não foi banido porque não existe mais o AI-5. Nem todos gostam do que realmente é bom.
Na terça-feira, começo com o Futura, onde vejo Livros que Amei. Num tom intimista, duas ou três pessoas, uma apresentando livros e autores que fizeram diferença em suas vidas, outras comentando estas obras e seus criadores, respectivamente. Com conhecimento. Profundidade. Pertinência. A noite termina com o grande provocador, Antonio Abujamra, comandando o Provocações, na TV Cultura. O diferencial do programa o define: “caminhando no incerto e idolatrando a dúvida”. Perguntas bem formuladas e inesperadas, para entrevistados que tem o que dizer. E dizem. Uma boa noite termina assim.
Quarta: dia do Saia Justa, no GNT. À frente, a jornalista Mônica Waldvogel, a mesma do Entre Aspas, que apresenta na Globo News. Presença fixa da jornalista Tetê Ribeiro, filha de Hamilton Ribeiro. Revezam-se o jornalista Xico Sá, da Folha, o cantor Léo Jaime, a atriz Maria Fernanda Cândido, além dos atores Eduardo Moscovis e Dan Stulbach. Sobre o que falam? Sobre temas que, para cada um, foi a saia justa da semana. Para enriquecer o encontro, Mônica chama Lúcia Guimarães, de Nova York, que conversa com um especialista no tema central do programa. E ainda temos o parecer de um profissional brasileiro, o que torna o papo, despretensioso, ainda mais completo, com tempero nacional. Apresentadora e participantes são doutores no assunto? Não. Falam como doutores? Não. Dão a palavra final? Não. Essa não é a proposta do programa. Trata-se apenas de gente bem informada, conversando diante de nós e permitindo-nos ouvir a troca de ideias que nos enriquece. Gosto disso. É como se eu, solitário que sou, estivesse num bar, com a minha long neck, ouvindo um pessoal interessante, com um papo idem, na mesa ao lado.
Enquanto sobem os créditos do Saia Justa, aproveito para dar uma olhada no assunto do Arquivo N, da Globo News. O programa celebra ou lamenta fatos históricos, gente que fez diferença em diferentes setores da vida nacional ou internacional. Sempre é bom saber um pouco mais. Ou lembrar o que passou. De qualquer jeito, um jeito interessante de aprender.
Para a quinta-feira, o primeiro prato é assinado pelo consagrado chef Olivier Anquier – Diário do Olivier -, servido pelo GNT. Um programa de culinária, diferente, porque além dos pratos existe história. É gostoso saborear essa viagem, até porque ando descobrindo a cozinha e seus encantos.
Na quinta não perco um episódio do divertido A Grande Família, na Globo. Divirto-me com o jeito tradicional e caricato como Lineu Silva [Marco Nanini], com sua esposa Nenê [Marieta Severo], que sempre encontra uma solução materna para os problemas familiares, vivem os papéis de esposos, pais, sogros, avós, cidadãos etc. Destaque para o extremamente cafajeste Agostinho Carrara [Pedro Cardoso], e sua desajeitada companheira Bebel [Guta Stresser]. Sem contar o Tuco [Lúcio Mauro Filho] e sua indefinição vocacional, o Beiçola [Marcos Oliveira] e sua pastelaria com produtos de qualidade duvidosa apesar de tantas multas, o Paulão da Regulagem e do “jeitinho” [Evandro Mesquita], o solteirão Mendonça [Tonico Pereira], o Pajé Murici [Luís Miranda] e o Florianinho [Vinícius Moreno].
Sexta-feira tem o Globo News Literatura, sob o comando competente de Edney Silvestre, repórter especial da TV Globo, escritor que venceu o Prêmio Jabuti de Melhor Romance 2010 e o Prêmio São Paulo de Literatura Categoria Estreante com seu primeiro romance Se eu fechar os olhos agora. Entrevistas, novidades, conversas enriquecedoras, instigantes. Gente de destaque no mundo das letras. Um programa que vale por dois. Ele consegue realizar a façanha de suprir a falta de opções a que sou submetido no dia seguinte. Para terminar, o Casa Brasileira, do GNT, coloca um super arquiteto mostrando e falando de suas superproduções em termos de traduzir a arte de morar. Os olhos ficam felizes diante dessa avalanche de talento e bom gosto. A gente precisa disso. Então, até domingo. ₪
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