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  • Foto do escritorRubens Marchioni

■ Até os animais

Inglaterra – Imagine a cena: por algum motivo, que foge do seu controle, você vive uma situação difícil, envolvendo aspectos como relacionamento interpessoal complicado, dinheiro escasso, dificuldade para encontrar uma colocação profissional, num país estranho, questionamentos sobre o sentido da nossa existência – quem somos, de onde viemos, para onde vamos? A vida está repleta de situações que o desafiam a mudar seus rumos, tomar caminhos que, por vezes, lembram verdadeiras aventuras, em geral envolvendo deslocamento físico, mudanças emocionais e internas.

O medo de assumir as responsabilidades, inerentes a esse desafio, pode atuar e tentar convencê-lo a permanecer na sua zona de conforto. Mas isso não vai ter graça. A guerra estará perdida antes do início. Corta.

Nesse momento, você precisa daquela voz que o anima a seguir em frente. Que contribua com alguma instrução, subsídios materiais e morais indispensáveis na sua empreitada. Dito com outras palavras, você conta com o comportamento ético da outra pessoa para iniciar a caminhada, atravessar os primeiros obstáculos e seguir em frente. Mas ética ainda não é amor.

Nem tudo será fácil. Dentre outros, os testes de conhecimentos, habilidades e atitudes vão aparecer. Pessoas amigas, algumas nem tanto, darão o ar da graça, desempenhando papéis, às vezes inesperados.

Um inimigo poderoso: a auto-sabotagem. Primeiro, ele fica de olho para descobrir se você está diante da possibilidade de conseguir algo que deseja muito. E então vem o ataque. Desacostumado a experimentar sensações de vitória, e sem saber o que faria num caso desses, quem sabe por não se sentir merecedor, o seu inconsciente cria algum obstáculo para que nada se realize. Algo como ter medo da felicidade, só porque nunca esteve frente a frente com ela e agir para que isso nunca aconteça. Outros inimigos atendem pelo nome de MedoPreconceitoCrenças distorcidas, Paradigmas etc.

Seu objetivo se torna mais próximo, está quase à mão. Mas algo acontece e você tem a nítida impressão de que até as pequenas conquistas foram para o espaço.

Tudo perdido? Nem sempre. De repente, a recompensa chega e dá o seu melhor sorriso. De volta para a sua realidade, você pode se deparar com outros desafios. Algo como se alguém quisesse se apossar da sua grande conquista. Perseverando, você renasce e contribui com o crescimento das pessoas que compõem o seu círculo de relacionamentos.

Para que tudo isso aconteça, você precisa apenas ter ao seu lado algumas pessoas altruístas. Uma expectativa além das expectativas? Não necessariamente. Há quem garanta que o ser humano é intrinsecamente bom, qualidade despertada por meio da ação da educação formal. Portanto, não estamos falando em nada como amor cristão, algo superior, que brota e nos remete à ideia de sobrenatural. Para ser altruísta não é preciso ter fé. Basta saber se compadecer do sofrimento do outro na dimensão meramente humana. E isso nem é assim tão complicado. Não requer diploma de santidade.

Esse conceito, criado em 1830, pelo filósofo francês Auguste Comte, para designar a atitude oposta ao egoísmo, depois retomado por outro, o alemão Ludwig Feuerbach, em outra perspectiva, trata da natureza humana e sua disposição para a solidariedade.

O altruísmo atua mais na questão biológica. Ele apenas representa o instinto natural de proteger o próximo, em caso de necessidades básicas como alimento, remédio, comida, teto, para citar itens essenciais à sobrevivência.

Ao mesmo tempo, o altruísmo está envolvido pela questão moral, isto é, sua prática independe da religião. Ao candidato é suficiente pertencer à raça humana. Talvez nem precise tanto. Basta lembrar que, segundo a biologia evolutiva e a etologia, os golfinhos são altruístas por natureza. E nenhum deles será escalado para subir ao céu, apenas porque prestaram os primeiros socorros a alguém da sua espécie. Para ter acesso ao Paraíso, é preciso bem mais do que isso. O altruísmo é uma das bases para doutrinas religiosas como o cristianismo, revelado através do amor ao próximo.

Segundo especialistas, no ser humano, as primeiras manifestações de altruísmo aparecem a partir do primeiro ou segundo ano de vida. Claro que isso acontece quando a criança é estimulada pelos pais por meio, sobretudo, de exemplos. Ela tem pouca capacidade de absorver explicações verbais, visto que seu repertório ainda é muito limitado, e, portanto, radical. Se lhe lembrarem de que Jesus ensinou a repartir o pão, ela não terá dúvida em afirmar que sobre repartir o doce, ele não disse absolutamente nada. No entanto, sua percepção é bem desenvolvida, quando se trata de atitudes práticas.

Felizmente, em caso de dificuldade, em geral, você terá sorte. Porque não será difícil encontrar um altruísta, alguém pronto a dividir seus recursos emocionais e materiais com outro da mesma espécie. Mas o melhor mesmo seria contar com um cristão: esse certamente o ajudaria a resolver os problemas imediatos e, antes de sair de cena, o deixaria com riquezas como esperança, além da certeza de vitória, sempre que a luta for justa. E isso não tem preço.

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