As vendas do refrigerador estão em baixa. Eis uma das últimas notícias na mídia. O desaquecimento é o maior da última década, ela acrescenta. Enquanto isso, o micro-ondas está em alta no carrinho de compras de um número crescente de consumidores. A revelação é feita por um grande jornal, e eu não vou questionar um dado fornecido com tamanha seriedade.
[Mudança de parágrafo e de assunto, para reposicionar a câmera]. Retomando a conversa, um pequeno paralelo. Comprar refrigerador é uma atividade essencialmente prática, como convém ao espírito masculino. O homem vai até a loja, faz a aquisição do eletrodoméstico e se livra do assunto, tão logo o coloca dentro de casa. Mas o utensílio não resolve nada além da preservação dos alimentos.
Já com o micro-ondas, tudo é diferente. Assim como a mulher, ele não é nada passivo. Resolve. Em mãos femininas, produz o alimento diário que sustenta a família, transformando matéria prima em refeição pronta.
O desequilíbrio nas vendas dos dois produtos aponta para a diferença, negativa, na atribuição de funções, privilegiando o segmento masculino? Ora, isso naturalmente afeta, de alguma forma, a qualidade do relacionamento entre o casal. Joga areia nesse convívio que, por natureza e contingências do mundo moderno, acumula motivos de sobra para apresentar falhas no funcionamento.
Votemos para que a venda de refrigerador experimente um rápido aquecimento. E que o micro-ondas respeite um pouco mais as conquistas merecidas pelo grupo feminino. ₪
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