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Foto do escritorRubens Marchioni

■ Administrar a vida longa e com propósito é opção

A LONGEVIDADE É um dos indicadores mais evidentes de bem-estar social. Tendo isso como ponto de partida e referência, olhamos para a população brasileira e vemos que ela está envelhecendo. Já faz tempo que deixamos de ser um país feito de jovens.  E isso nos leva à pergunta inevitável sobre a qualidade de vida que conquistamos até aqui. Ela é adequada para uma velhice vivida com dignidade?

De um jeito ou de outro, de uma coisa não se pode fugir: de nossa parte, não há controle absoluto desse cenário, ou seja, estamos, sim, sujeitos a todo o processo de envelhecimento. Nesse sentido, é o caso de ver o que afirma João Pedro de Magalhães, investigador português e professor da Universidade de Liverpool, no Reino Unido.  Além de estudioso do processo de envelhecimento e suas possíveis manipulações para prevenir doenças relacionadas com a idade, Magalhães também é consultor de várias organizações sem fins lucrativos e empresas de biotecnologia.

Perguntado sobre o presente e o futuro da ciência da longevidade e dos negócios que procuram vender tempo de vida saudável, a fim de saber se estamos próximos de ter uma vida sempre jovem, apenas limitada por algum acontecimento violento, ele respondeu que ‘Nós sabemos que existem espécies animais complexas, como tartarugas, certos peixes, salamandras etc., que aparentam não envelhecer. Por isso, o envelhecimento não é inevitável nem universal. Acredito, do ponto de vista teórico, que vá acontecer um dia, mas não acho que vá acontecer num futuro próximo. Aquilo que nós conseguimos fazer em modelos animais, como ratos e ratinhos, é manipular o processo de envelhecimento, ou seja, aumentar a longevidade e preservar a saúde em animais mais idosos. Mas não conseguimos, nem sequer estamos perto de conseguir, abolir o envelhecimento em animais.’

Enquanto isso, no mundo inteiro, Brasil no meio, a grande corrida é para prolongar ainda mais a vida humana. No entanto, países desenvolvidos empregam práticas que geram resultados. No mínimo, investem em saúde preventiva. A educação, por sua vez, funciona como um motor que estimula a adoção e a prática de hábitos saudáveis. Toda a cultura contribui para que a vida seja prolongada. E isso inclui o cuidado com o corpo e com a mente. Escola e empresa participam desse processo, porque entendem que isso tem a ver com a sua missão e que o resto é omissão. Afinal, capacitação e carreira é um casamento que gera as melhores soluções a curto e longo prazo. Mas isso está longe de acontecer plenamente no Brasil, que prefere negligenciar o poder transformador da educação, uma vez que os interesses pessoais têm de ser atendidos em primeira mão.

Mas não basta apenas viver mais. Segundo Fiódor Dostoiévski, ‘O segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive.’ É preciso viver com propósito. Isso faz sentido e muda tudo. Nesse caso, não estamos falando de algo que dependa de políticas públicas, elas sim, o começo de toda essa história. O desafio, aqui, vem de dentro de cada um, do seu desejo de deixar um legado, marcar a história para que ela não seja um amontoado desconexo de cenas que narram apenas a absoluta falta de compromisso com a vida. Quem não deseja atuar nessa jornada que só comporta a força de heróis, tem dificuldade de entender o que é sair em busca da construção dessa nova sociedade que vai brotar de um terreno renovado por novas ideias e práticas revolucionárias. ₪

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