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■ Adeus: o suspense

  • Foto do escritor: Rubens Marchioni
    Rubens Marchioni
  • 9 de mar. de 2015
  • 1 min de leitura

Percebi quando bateram à minha porta. Confesso que fiquei surpreso. Quem seria, afinal?

Eu não esperava por ninguém naquele domingo com temperatura bastante fria. Verdade é que não entendi a sua chegada repentina. Talvez soubesse dos seus planos, mas tivesse preferido ignorá-los. Mecanismos de defesa são assim.

Meu corpo a recebeu, estranhando aquilo tudo. Por todas as partes, ele vivenciou sua presença. Não conseguia entender ao certo o que estava acontecendo. Pedia uma resposta. E ela se recusava a chegar.

Não me lembrava dos seus traços e sinais particulares. Fiz questão de esquecê-los, tão difícil fora a última experiência de convívio entre mim e ela. Mas experimentei as transformações trazidas pela sua presença insistente. Em poucas horas, eu já não era mais o mesmo. Estava totalmente entregue.

Veio a segunda-feira, dia útil, o trabalho contando comigo. Ausentei-me sem culpa. Não havia como estar lá. Tinha sido inteiramente tomado pela sua companhia. Ignorei o despertador, virei para o lado e dormi outra vez. Estávamos irremediavelmente juntos.

O novo amanhecer trouxe-me a terça-feira, com uma agenda repleta. Ignorei-a também. Não havia quase nada que pudesse fazer além de sentir a sua presença desanimadora e administrar suas consequências. Teria de suportá-la pacientemente por alguns dias, feitos de uma difícil convivência.

Mas chegou o dia mais esperado: ela arrumou suas malas e pouco a pouco foi me deixando. Finalmente aquela gripe se deu conta de que estava sendo inconveniente e fez o favor de ir embora. Adeus. 

 
 
 

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