Judy está diante de mim. Não está mais. De repente, quando falo com ela, sinto que celebro missa de corpo presente. Sua cabeça, seu espírito, nada disso a acompanha. Seus pensamentos viajam, a bagagem carregada de interrogações dispensáveis, ocupada com o futuro e sem tempo de viver o presente que lhe escorre pelos dedos inseguros. Fico, então, apenas com um inesperado monólogo previsível, ouvindo a própria voz.
Por onde anda essa parte da minha amiga? Em que mundo passeia, sem qualquer sinal de repouso, recusando-se a tomar o caminho de volta? Que drama ela vive, em sua peregrinação mental, que somente a aprisiona? Sua luta, seu empenho em acrescentar dias à sua vida a impedem de acrescentar vida a cada um de todos os seus dias. A conta não fecha.
Minha amiga é vítima confessa de um mal que atinge grande parte da humanidade, entregue à busca sem trégua por conquistas que prometem trazer todas as soluções para os males do corpo e da alma. Se foi livre na escolha desse caminho? Bem pode ter-se dado o fato de uma indução, artimanha preparada pelo ritmo em que se vive sem viver. Sem espírito crítico, deixa-se levar, folha conduzida segundo a vontade do vento que apenas se diverte.
Provocador e com o objetivo de mostrar o tamanho da insensatez, Jesus Cristo interroga sobre quem poderia, com as suas muitas preocupações, acrescentar uma única hora ao curso da sua vida. Impossível fugir dessa evidência. Porque ela toca bem fundo no cotidiano das nossas existências e o coloca em xeque, pedindo mais inteligência e um pouco de bom senso.
Quando Judy voltar… Não sei se ela volta. A considerar a distância percorrida por seus pensamentos, ela bem pode ter-se perdido em outra galáxia. Pobre Judy. ₪