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  • Foto do escritorRubens Marchioni

■ A respeito de viver

O autorrespeito se fundamenta no desejo de ter preservada a dignidade. É ela que permite usufruir do fato de ser um membro da comunidade humana, como agente que se transforma e é transformador a um só tempo. Nisso consiste, em grande parte, o sentido da vida. Do contrário, ela fica reduzida a um teatro mambembe, cuja única peça encenada não obteve aprovação sequer do mais ignorante a respeito da arte cênica. 

Mas isso não se conquista por acaso. Nada confiável pode ser construído se não existir, como base de sustentação, uma forte estrutura de valores. Para isso fomos criados. Esta é a nossa vocação fundamental, advertência feita à exaustão pelo teólogo Leonardo Boff. 

E então pensamos no campo do trabalho, por exemplo. Ele é o nosso principal terreno para a prática da felicidade ou do desgosto mais profundo. Afinal, é lá que passamos a maior parte do nosso tempo de vida produtiva. Sem qualidade que justifique o esforço, nem mesmo o melhor sistema político, nem o casamento mais completo, nem todos os livros escritos, nem todas as missas farão o milagre da recompensa que não foi construída no aqui e agora. Um filme, cujo enredo é pobre, o elenco destituído de talento, a verba escassa e a produção amadora, resultará, necessariamente, em fracasso de crítica e de bilheteria.   

Investir na carreira, emocionar-se com resultados que também beneficiem a coletividade, isso atende a uma das nossas maiores necessidades vitais: a de realização. A propósito do assunto, impossível ignorar o enorme contingente de homens e mulheres que atribui ao outro a pesada tarefa de lhe garantir a felicidade pessoal. Nada menos adequado. Nada mais injusto. Porque cabe a cada um construir o prazer que deseja sentir na vida, tendo no outro um parceiro de caminhada. Atividades como a profissional e intelectual são portas grandes e generosas, abertas a quem deseja construir a sua obra. Sem desculpas. Apenas com a coragem e a determinação do herói que busca do elixir, como tratado na obra de Christopher Vogler, que mostra os passos de uma grande jornada – ela é feita com a participação de mentores, inimigos, aliados, testes de resistência física e emocional, provações e ressurreição.    

O que será preciso superar? Tudo o que possa impedir essa caminhada rumo ao sentimento de que a vida valeu a pena em todos os sentidos. Isso é digno. Isso é dignidade na sua melhor expressão. A vida não pode sair de cartaz e entrar no eterno esquecimento. Este final seria avesso ao conceito de eternidade a que somos chamados.  ₪

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