“Por que mudar para o novo se nem tudo que é novo é bom?” – eis a pergunta que ouvi, da boca do personagem central de um filme. Ela me fez pensar por escrito, embora receando pelo futuro da minha imagem pessoal.
Moacir Gadotti, professor da Universidade de São Paulo e Diretor do Instituto Paulo Freire, lembra que as transformações tecnológicas nos trouxeram a Era da Informação, marcada também por expectativas, perplexidade e crise de concepções e paradigmas. O desenvolvimento de um país está condicionado à qualidade da sua educação, afirma Gadotti. No entanto, uma questão se torna inevitável: tudo o que a educação oferece, no que diz respeito ao tema da tecnologia da informação, contribui, necessariamente, para que se criem produtos e serviços inteligentes e sustentáveis? Ou seriam itens que, para resolverem um problema, nem sempre existente, criam pelo menos outros dois?
O que significa inovar? Segundo o “Manual de Oslo”, documento que padroniza conceitos referentes à pesquisa e desenvolvimento, inovação é a “implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas”.
De nossa parte, lamentavelmente, o desejo de inovação se tornou absoluto. Ele já tem valor por si mesmo. Até faz parte dos valores de uma empresa brasileira, que o inclui como algo com o que ela está comprometida. É como se tudo o que foi pensado, inventado, descoberto, até aqui, tivesse passado por um processo de perda de significado e merecesse a ferrugem de um velho galpão infestado de ratos. Afinal, segundo essa teoria, tudo nasce marcado pela obsolescência. “Vai ser bom, não foi?”
Sem perceber tornamo-nos viciados em inovação. Tudo indica que perdemos a capacidade de questionar os seus limites. Não raro, a conquista aparece até mesmo em CV, como recurso para aumentar as chances de conseguir uma nova colocação. Mas o controle precisa ser retomado. Senão, para onde iremos nessa viagem maluca?
Certamente desembarcaremos, por exemplo, na ideia, em geral frustrante, da convergência entre todas as tecnologias. Como base de sustentação, a aposta de que se existe tecnologia disponível para se construir uma nova geringonça, então ela deve ser feita.
O primeiro problema é que, para o consumidor, objeto de tantas invencionices, essa capacidade não é o que conta. Para ele, só interessa a possibilidade de resolver problemas reais do seu “aqui e agora”. E isso nem sempre tem a ver com forçar a convergência entre mídia, comunicações, varejo, serviços financeiros, serviços de saúde, educação, viagens etc., apenas para citar um exemplo do que já foi tentado.
O canivete suíço é a prova máxima de sucesso em termos de convergência. Mas isso não garante o mesmo no caso de carro e avião. A experiência já deu errada há décadas e, um dia, a História vai nos contar essa história de fracasso Made in USA, dentre outras.
Fomos tomados pelo medo avassalador de não estarmos sempre à frente. Nesse sentido, convém perguntar quando, de fato, estamos à frente. Talvez tenhamos sido reduzidos à condição de escravos de algumas leis de mercado – oferta versus procura -, apenas porque ele precisa vender e lucrar mais.
Mais do que nós, as novas gerações vão sentir o peso desse processo imediatista e inconsequente que compramos, sem antes perguntar o preço.
O buraco em que nos metemos desde algumas décadas é mais profundo do que parece. A praga do imediatismo consegue apagar o passado, bloquear o futuro e seguir em frente, afetando até mesmo as nossas escolhas políticas, sociais e ambientais. A propósito disso, um pensador americano discute a polêmica cultura do imediatismo. Quem faz o diagnóstico, no mínimo alarmante, é Douglas Rushkoff, professor de estudos de mídia na The New School University de Manhattan, colunista de cybercultura do “New York Times” e escritor traduzido para mais de 30 línguas.
Sua provocação está no livro Present shock: When everything happens now – Choque do presente: quando tudo acontece agora, em tradução livre -, lançado nos EUA. O título é uma referência a Future shock, obra emblemática do sociólogo e futurólogo Alvin Toffler, que já vendeu mais de seis milhões de exemplares. Nele, Toffler insiste na questão segundo a qual o ritmo acelerado da mudança tecnológica e social sobrecarrega as pessoas. E esta é uma boa razão para a recusa, gerada pela fadiga, ao excesso de produção de tecnologia. Ninguém aguenta. Ninguém merece.
Algo precisa ser feito para que esse quadro seja mudado. Mesmo que isso nos custe uma dose de esforços, individuais e coletivos, até então fora dos nossos planos. Neste caso, qual será a nossa meta? O que deve acontecer para que o resultado desse questionamento, teórico e prático, seja considerado satisfatório? ₪
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