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Foto do escritorRubens Marchioni

■ A grande viagem

O número de turistas independentes, os que fazem carreira solo nas suas andanças pelo exterior, só faz crescer. Quem me contou foi o Estudo de Intenções de Viagem da Visa Global.

Conquistar novos espaços. Vasculhar os espaços internos, sempre com algo desarrumado e pedindo alguma ordem. Viagem-retiro, talvez? De tempo em tempo, somos convocados pela voz do silêncio a deixar tudo para trás e bater em retirada. Então saímos como quem busca algo valioso que se perdeu em algum canto do planeta. Ou do nosso próprio universo.

Quem sabe não se trata do preenchimento de uma lacuna deixada pela Santa Madre Igreja, tão santa quanto pecadora? Nem sempre ela se moderniza pelo caminho mais construtivo para o crescimento da comunidade. O horizontalismo ganhou mais força do que o recomendado pelas nossas necessidades. O vertical, possibilidade de encontro entre o homem e o céu, perdeu terreno. E isso, por vezes, nos sacrifica. Esquece-nos numa cruz unilateral, que nada entende de ressurreição.

Ficou lá no passado, aquele tempo em que grupos de paroquianos eram convidados a alguns dias de recolhimento. Da fundação ao telhado, àquela pequena flor, o ambiente era desenhado para favorecer o grande encontro. Em clima de silêncio, as pessoas ouviam preleções densas de espiritualidade. Marxismo era algo estranho aos seguidores do Evangelho inspirado pelo Filho de Deus. Jesus ainda não havia sido transformado num guerrilheiro. 

Em todo o tempo, os participantes eram instigados a olhar para o eterno e tomar consciência da sua relatividade pessoal. Falar e, sobretudo, ouvir a voz de Deus. Ele era encontrado nos cantos e nos detalhes estudados da liturgia. Na voz dos pássaros, em bandos, nunca em ruídos de uma banda antir-recolhimento. Na paisagem deslumbrante. No por do sol ou no riacho despretensioso em sua melodia relaxante.

Em tudo, encontravam um novo símbolo. Por meio dele, sentiam-se advertidos ou reconfortados de suas muitas lutas em tantos ambientes dessacralizados. O mundo se fazia novo. A paz e a fraternidade se revelavam naturalmente óbvias.

Hoje, usam-se aeroportos internacionais. A partir da última chamada para o embarque, procura-se resgatar lembranças do primeiro amor. Redescobrir aquilo que provocou tantas escolhas, cujo sentido insiste em se apagar no tempo. “Por que escolhi esta profissão?” “Que chamado me levou para a vida religiosa?” “O que, nesta pessoa, despertou em mim o desejo de construir uma família?”

Em terra firme, no interior de um avião, no bucólico Sítio Dom Bosco, andando pelas ruas da romântica Itália ou da sisuda e fria Inglaterra, muitas vezes busquei respostas como essas. Em alguns casos, elas vieram até mim e me habitaram.  

Bendita a solidão que nos permite reencontros de tal forma significativos. Eles são indispensáveis quando se deseja seguir em frente. Mais ainda se o propósito é caminhar com segurança redobrada, errando apenas porque se teve a coragem de tentar de novo. ₪

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