■ A flexibilidade inspira porque os resultados encantam
- Rubens Marchioni
- 28 de fev. de 2019
- 3 min de leitura
‘AO VER UM estilo natural, ficamos surpreendidos e encantados, pois esperávamos ver um autor, e encontramos um homem’, disse Blaise Pascal. E por que isso acontece? Porque um autor, tomado em si mesmo, é um técnico. Não tem nervuras nem sensibilidade. O sangue não lhe corre nas veias, ele apenas quebra pedras. Ao contrário, o homem vai além, vive tomado pela vida. Serve-se da técnica, mas não se submete a ela, porque é senhor do processo. Ele olha e enxerga mais longe. Por isso, mais do que simplesmente quebrar pedras, constrói catedrais. Seu olho é transformador.
A flexibilidade tem a força necessária para atingir seus objetivos. Em geral, depois de presenciar a sua manifestação, aqueles que a observam, sentem-se motivados a rever suas posições. E nesse sentido, não aceitam qualquer demora, têm prazos a cumprir. Além disso, ela é um projeto para quem descobriu que o essencial vem primeiro, seguido depois do importante e do acidental, respectivamente. E essencial é obter resultados práticos, a partir de práticas que gerem respostas efetivas. Por isso, ela vai buscar aquele que sinalizou o interesse pela mudança, toma-o pela mão e o transforma num defensor dessa filosofia de vida. Seu propósito é construir pessoas renovadas.
Impossível não se deixar levar por quem vai mais longe em vista de um comportamento que abre novos espaços, mantendo a ética, que consiste em fazer o certo e não apenas o mais fácil. A flexibilidade é eloquente por si mesma. Não precisa e não deseja a prática da agressão como forma de convencer o outro. Para renovar, basta a força do seu carisma.
Ela está aberta ao diálogo, essa prática em que se fala como se não soubesse nada, ouvindo como se o outro soubesse tudo e disposto a rever posições, às vezes tidas como pétreas, em favor de um bem maior. Nessa conversa, alguns recursos aparecem como fundamentais: a analogia, a definição, o exemplo, o fato, o fundo histórico, o número, a estatística, o testemunho, apenas para citar alguns. Trata-se dos enriquecedores de uma conversa que se propõe inteligente e produtiva. Gente flexível tem essa força adicional. E demonstra seus projetos sem medo de crítica.
No final, entrega mais do que prometeu, porque olha para os resultados mais do que para os meios. Não se submete aos atributos de uma decisão, mas busca os benefícios que ela pode trazer e, mais do que isso, aos valores que oferece. Acompanha os processos com menos estresse, sem forçar resultados. E reage bem se o feedback é negativo, enxergando aí uma nova oportunidade de crescimento, quando seria muito mais fácil e confortável adotar um estado crônico de lamento. A flexibilidade é energia que move para frente.
Acrescente-se que ela não investe na carência, mas na abundância, porque tem um projeto de enriquecimento constante da vida. Mais do que solucionar a mera busca pelos meios que garantem a sobrevivência biológica, ela se projeta na direção do crescimento e da autotranscendência sugeridos por Abraham Maslow. Pessoas flexíveis trabalham pelo crescimento próprio e do outro, em todas as dimensões, porque sabem que essa atitude produtiva é mais inteligente e sensata. Se todos estão bem – ela acredita -, todos estão bem! Assim, bem-aventurados os flexíveis, porque deles serão todos os reinos. E isso começa na experiência de servir. Uma tarefa que se torna mais fácil e prazerosa, porque elas conquistam a afeição dos parceiros e o engajamento de cada um nos projetos que beneficiam todo o grupo. Quando pleiteiam algo, em geral as pessoas flexíveis procuram manter o foco nos resultados para a comunidade. Não investem no egoísmo, porque o comunitário tem primazia. Afinal, por mais que se imagine autossuficiente, ninguém é uma ilha. E se é verdade que sozinho eu chego mais rápido, também é certo que juntos a gente vai mais longe.
Por fim, pessoas flexíveis têm mais chance de viver uma situação de segurança na velhice. Afinal, elas se adaptam com mais facilidade a novos ambientes e situações. Onde quer tenham chegado, sempre estarão em casa.
Nascer, viver, envelhecer: um movimento flexível. Sem ele, não se chega sequer ao meio do caminho. ₪
RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Autor de Criatividade e redação, A conquista e Escrita criativa. Da ideia ao texto. rumarchioni@yahoo.com.br – http://rubensmarchioni.wordpress.com
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