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Foto do escritorRubens Marchioni

■ A alegria tem o poder de uma bomba

♦ MAS ELA NÃO causa estragos. Seu potencial explosivo apenas manda pelos ares as amarras que nos impedem o próximo e o próximo passo rumo a uma vida feliz.

A alegria cai do céu? Não, não há por que esperar que venha de tão longe. Melhor do que isso, ela está aqui, bem pertinho. Tudo depende do nosso desejo de optar. Assim: de manhã, logo que acordo, decido que vou ter um dia feliz. Claro que todas as coisas acontecerão normalmente. O chefe será o chefe, o cliente será o cliente, o trânsito será o trânsito, o governo será o governo, eu serei eu, ou seja, o mundo não para pra me dar passagem. Mas eu posso, claro que sim, fazer uma experiência de filtrar, sofisticar os pensamentos, palavras e ações que usarei naquele dia. Posso dar um toque mais requintado à vida simples que tenho. Celebrar – veja que palavra festiva, quase religiosa – celebrar o que deu certo e aprimorar métodos e processos para o que ainda não atingiu a melhor performance. Substituir a lamúria pela determinação de fazer de novo, agora melhor, à maneira de Nietzsche, para quem a fórmula da felicidade era “um sim, um não, uma linha reta, um objetivo”. Naquele aperitivo curto que tomo antes do jantar, celebro uma a uma as minhas conquistas.  

Depois, antes de dormir, me sento com Deus e conversamos um pouco a respeito de tudo. Finalizamos o breve encontro reforçando o pacto: das coisas naturais, humanas, do esforço para levantar cedo, conhecer, treinar e querer fazer, disso cuido eu; do milagre, que foge completamente ao meu controle, disso ele cuida. Tem dado certo. E no dia seguinte a alegria é renovada, não por mágica, mas pela minha opção de renová-la. A decisão é minha. A ação também. Dá trabalho, mas não troco por nada o resultado que alcanço. Assim como para François-Marie Arouet Voltaire, “Tudo de bom acontece a pessoas com disposição alegre.”

A escola mudou. Não é mais a mesma. E o processo não tem data para terminar. A única coisa que não muda, no entanto, é o fato de que ela continua sendo o maior centro produtor e distribuidor de conhecimentos. Um espaço que se revela precário sem a presença de cientistas, professores competentes, profissionais em condições de produzir conteúdo de qualidade. É dele a missão de transformar nossas crianças e jovens em cidadãos capazes de colocar de cabeça para baixo esse mundo que, mantido como está, caminha para um futuro incerto, perigoso, por ter se apaixonado pela autodestruição.

Ora, estamos falando de algo como criatividade, capacidade de inovar, encontrar a segunda resposta certa. De um lado, isso vai acontecer quando o governo, fazendo a parte dele, descobrir que deve investir em ciência, com pensamento estratégico e objetivos claros. O problema todo é que ‘objetivos claros’ têm força de contrato, compromete. Senão, pense na frase ‘Eu vou à sua casa amanhã, às 15 horas, sozinho, tomar um café, para falarmos sobre o projeto XPTO.’ No dia, hora e local, você certamente estará me esperando, e sentindo-se no direito de ficar muito aborrecido comigo caso não cumpra o que prometi. Como se vê, contratos tendem a não ser confortáveis para quem toma decisões, porque favorecem o monitoramento e a cobrança.

Mas, e isso é muito bom, não precisamos nos manter na desconfortável condição de reféns do governo. Desenvolver e implantar a criatividade é um trabalho que pode, e deve, ser feito todos os dias, mesmo que apenas individualmente, desde antes do café da manhã e durante as próximas 24 horas. É exercício diário, que não tem imposto nem taxa, e requer apenas um pouco de disciplina. Os resultados surpreendem.

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